O mercado literário americano dos anos 60 foi bombardeado de livros de escritores negros. O pequeno espaço de ficção, conquistado por autores como James Baldwin, cedeu lugar para textos políticos. Estava em cena a revolta negra, liderada por autores ácidos como Stockley Carmichael e Malcolm X, que buscavam a liberdade a qualquer custo para os afro-americanos, cansados de exploração e desrespeito.
Nesse contexto, em 1967, Alice Walker publicou De amor e desespero: histórias de mulheres negras. Trata-se de uma coletânea de treze contos que vem sendo republicada com frequência desde então, tornando-se leitura obrigatória em estudos universitários sobre a cultura afro-americana.
Esse livro é, não só extremamente belo, mas também um trabalho corajoso. Além de conseguir romper a barreira de ser uma das primeiras escritoras negras a alcançar notoriedade, Walker revelou que a opressão e o desrespeito eram cometidos dentro da própria comunidade negra do sul dos Estados Unidos, tendo como alvo as mulheres. A partir daí, suas obras em prosa e poesia, como A cor púrpura, abordariam situações de violência física e a busca da dignidade.
Em De amor e desespero: histórias de mulheres negras, o leitor encontrará um poético leque de experiências contadas com maestria. São portraits envolventes como o de Rosely, no dia de seu casamento com um muçulmano, cercada de seus quatro filhos, que reza para que a união sem amor e a mudança para Chicago lhe tragam respeitabilidade. Ou da jovem escritora, explorada por seu amante e por seu marido, que elabora uma irônica vingança.
Alice Walker é uma escritora política, autora de romances, coletâneas de poesias e ensaios traduzidos para mais de 20 idiomas.
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