Cuba Libre

O escritor Elmore Leonard é o homem que pôs Detroit, e depois Miami, no mapa do romance policial americano, assim como, antes dele, haviam feito Dashiell Hammett e Raymond Chandler, respectivamente, com San Francisco e Los Angeles. Neste Cuba Libre, lançado nos Estados Unidos em 1997, a cidade é outra: Havana. Mas os personagens são os mesmos: charmosos à sua maneira e sempre inescrupulosos, cínicos e divertidos.



A Havana de Leonard não é a ruína de hoje, retratada no filme Buena Vista Social Club. Tampouco, a do ditador Fulgêncio Batista, a quem Fidel Castro e Che Guevara botaram para correr. Mas tem pontos de contato com ambas, embora a ação do livro se passe em 1898, época da guerra hispano-americana, que marca o início do longo domínio americano na Ilha. Uma Havana prostibular, onde as profissionais não aceitam dinheiro, e sim cartuchos de Mauser; e os fuzilamentos, tão comuns, não surpreendem mais.



Leonard se utiliza de um fundo histórico — a explosão do couraçado Maine, em Havana, levou os americanos a lutar contra a Espanha, ao lado dos rebeldes cubanos — para traçar a trajetória de um caubói extraviado, Ben Tyler, que, a pretexto de comercializar cavalos, na verdade faz contrabando de armas. Depois de matar um oficial espanhol, Tyler irá se envolver com Amelia Brow, a linda garota do mandachuva local, com o fuzileiro Virgil Webster, um desmemoriado sobrevivente do Maine, com o jornalista Neely Tucker e o sanguinário Lionel Tavalera, chefe da Guarda Civil.



Cuba Libre, de certa forma, é uma volta às origens literárias de Elmore Leonard, que começou a carreira como escritor de western. É dele um clássico do gênero, Hombre, levado às telas em 1967 pelo cineasta Martin Ritt e estrelado por Paul Newman. Elmore Leonard é um autor sofisticado, que deixa seu recado nas entrelinhas e sabe, como poucos, fazer com que o leitor entre na narrativa e não consiga mais deixá-la até a última página. Em Cuba Libre, ele está no melhor de sua forma.