Paraiso Líquido

Paraiso Líquido Luiz Bras


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"Quem está procurando o quê? Você certamente está procurando um bom livro, do contrário não estaria lendo este texto. Mas saiba que, talvez com mais intensidade do que possa imaginar, também os contos desta coletânea estão à procura de algo. Melhor dizendo, de alguém.



Como os seis personagens à procura de um autor, de Pirandello, os contos reunidos neste volume estão em busca de certo tipo de leitor relativamente incomum hoje em dia, ao menos nos círculos mais refinados. Falo dos apreciadores sofisticados que, ao abrir um livro, ir ao cinema ou ao teatro, buscam algo mais do que a simples realidade nua e crua.



Nesses contos o que há de sobra são pessoas e situações que transcendem a rotina diária, expandindo os limites físicos e psicológicos do cotidiano. Apesar disso, garanto que nessa seqüência de treze narrativas há muita realidade, talvez sem a nudez e a crueza da literatura de denúncia social, mas, mesmo assim, realidade.



'Tudo o que é sólido desmancha no ar', Marx escreveu e Marshall Berman confirmou. Essa sábia constatação também serve para descrever muito bem o encadeamento de histórias que vai de Primeiro contato a Paraíso líquido. Os indivíduos e os cenários facilmente reconhecíveis do primeiro conto, as convicções mais sólidas, o aqui-agora, devagar vão perdendo os contornos e, conto após conto, desmanchando no ar. Se no Primeiro contato aparece claramente o Brasil preconceituoso e cruel de hoje, no Paraíso líquido já não há mais Brasil, nem Ocidente, nem Terra. Há apenas a Paisagem, um espaço estranho e delicado, habitado por seres maravilhosos e assombrado por uma entidade chamada Nuvem.



Além do processo de dissolução, há outro elemento comum a todas essas narrativas: a crise profunda, essência de tudo o que existe. Todas as histórias reunidas aqui denunciam as forças conflitantes, as contradições internas características dos indivíduos e das sociedades humanas. As crianças em contato com a desordem familiar e social, em Daimons, Cruzada e Singularidade nua; as mulheres prestes a perder a sanidade e a vida, em Memórias, Nostalgia e Futuro presente; todas essas pessoas foram flagradas no momento mais crítico de sua existência e da sociedade a que pertencem.



O mesmo pode ser dito dos fuzileiros em Déjà-vu, conto que se destaca por sua peculiaridade formal, pois o conflito do enredo contamina também sua estrutura. Segundo o autor: 'Esse conto é uma narrativa com dois modos de leitura: do primeiro capítulo ao último ou do último capítulo ao primeiro. No primeiro modo o tempo recua. No segundo, ele avança. Como se trata de um conto sobre uma máquina do tempo, julguei bastante pertinente brincar com a estrutura narrativa'.



Como eu disse, a dissolução e a crise profunda estão à procura de alguém muito especial.

Você".

Por Rebecca O’Brien (The Ohio State University)

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cadastrou em:
14/06/2010 19:13:02

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