Neste livro há muito esquecido do nosso público, Victor Kravchenko (1905-1966), um antigo funcionário e engenheiro soviético nascido na Ucrânia, presta um extraordinário depoimento da sua vida sob o regime estalinista e das suas experiências enquanto membro do Partido Comunista da União Soviética, no qual se filiou em 1920.
Preso e torturado, viveu na primeira pessoa a colectivização e a "Grande Fome" (Holodomor) da Ucrânia, tendo visto morrer milhares à fome e ao frio, perseguidos pelo NKVD, a polícia secreta de Estaline. Conheceu os campos de concentração (o Gulag) na Ucrânia, na Rússia e na Sibéria, e empregou, nas fábricas que dirigiu, mão-de-obra escrava vinda das prisões políticas. Porém, conheceu também o que era ser da nomenklatura, com um gabinete no Kremlin.
Kravchenko “Escolheu a Liberdade” numa visita de prospecção aos EUA, em 1943. O seu testemunho, originalmente publicado em 1946 e traduzido para mais de vinte idiomas, foi um grande bestseller na sua época e um escândalo para os intelectuais comunistas, que então dominavam o pensamento nos países ocidentais. Em França, quando o livro foi publicado, Kravchenko foi acusado de difundir relatos falsos sobre a vida na URSS e de ser um agente norte-americano. Kravchenko processou então a famosa revista “Les Belles Lettres” por difamação, dando origem ao chamado “Julgamento do Século”, o qual viria a vencer e cujos detalhes acabaria por relatar no seu segundo livro, intitulado “Escolhi a Justiça” (1950).
Victor Kravchenko faleceu em 1966 em Nova Iorque, permanecendo a sua morte envolta em mistério. Afinal, apesar de a versão oficial indicar como causa o suicídio, subsiste ainda hoje a dúvida se terá sido envenenado por agentes do KGB, como acredita o seu filho.
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