Trata-se de um romance multinacional e multicultural. Porque revela diferentes culturas europeias, como a portuguesa, a francesa e a irlandesa, através de uma narrativa bem orquestrada organizada como uma sinfonia, na qual Manoel, o português, Lucien, o francês, Kathleen e Joe, os irlandeses, pontificam.
Romance introspectivo? Romance de suspense? Romance de ação?
A obra é tudo isso. Tudo isso captado no curso de três dias da vida de Manoel (em Lisboa), Lucien (em Paris) e Joe (o estrategista irlandês); três dias que antecedem o início do que se convencionou chamar de "O jogo de Dublin", jogo este engendrado por Joe, ou Gepeto, um aposentado funcionário de uma empresa de navegação que faz a linha Irlanda-França, e que um dia resolve surpreender o mundo com uma descoberta literária que envolve ninguém menos do que James Joyce. Para levar a cabo o intento, congemina o "jogo", e de uma lista aleatória de passageiros escolhe seus participantes.
Manoel e Lucien concordam em participar. Há uma promessa de prêmio ao vencedor. Por que não jogar?
Joe é acolitado por Kathleen, sua filha, que vive em Paris e segue os jogadores sem que estes o saibam.
A primeira parte da obra (da sinfonia) passa-se entre Lisboa e Paris. A segunda, uma espécie de contraponto da primeira, passa-se em diversos lugares da Irlanda. Esse contraponto é fascinante. Como se biombos imaginários que escamoteassem a intimidade dos protagonistas fossem paulatinamente recolhidos restando fragmentos dispersos de algo a que se poderia provisoriamente chamar de verdade.
Instaura-se um tempo quase mágico, embalado pela experiência do sonho e por uma realidade em transe.