A fundação francesa de São Luís e seus mitos

A antiga polêmica da fundação da cidade de São Luís não será a mesma depois dos trabalhos da professora Maria de Lourdes Lauande Lacroix. Em 2001, o livro causou surpresa ao abordar o tema de maneira inusitada. Acompanhando a escrita de cronistas e historiadores acerca das origens da cidade, localizou na passagem para o século XX uma alteração na interpretação histórica. A fundação afastava-se das marcas portuguesas para ressaltar a tentativa de implantação da França Equinocial. Assim, colocou a questão sob nova forma: por que os franceses passaram de invasores a fundadores da cidade na memória historiográfica? A visão proposta, ampliada pelas poderosas lentes do prefácio escrito por Flávio Soares, relacionava a mudança da interpretação à construção da identidade. Tendo a perspectiva da "decadência" como matriz cultural e voltando-se para a definição dos traços da "singularidade" regional, as "elites decadentistas" construíram a imagem da capital evocando a Grécia clássica, pela utilização renovada dp epíteto Atenas Brasileira, e a França moderna, através da mitologia da fundação. A cerimônia da posse das terras em nome do rei da França, em 8 de setembro de 1612, tornou-se o "verdadeiro ano da fundação da cidade", no dizer inequívoco de Ribeiro do Amaral em 1912. A idealização das origens promovida pelas "elites decadentistas" constituía atitude reativa frente à crise que se aprofundava desde o final do século XIX, uma fuga orientada para a mitificação do passado.