A Batalha de Sarajevo

"O terror começa na chegada à cidade pela avenida que antes levava do centro ao aeroporto e hoje leva de ruína para ruína, do inferno ao inferno. Há um momento que serve como se fosse a largada de um grande prêmio. Trata-se do instante em que o miliciano sérvio alojado atrás de um container dá autorização para que você passe por seu posto de controle, na localidade de Ilidza (a última sob controle sérvio antes de Sarajevo propriamente). O posto sérvio usa o container para se esconder de eventuais atiradores muçulmanos. Você está parado e sabe que pode estar sendo mirado por um deles.
Uma estranha sensação e você poderá estar morto, com ou sem consciência. Algumas regras ficarão ecoando em sua cabeça: "procure pôr a cabeça sempre junto à coluna entre as portas do carro: ali o metal é mais forte"; "Use o capacete" (o que procurei evitar, pois imaginava que um possível observador-matador poderia ficar tentado a testar a resistência do aparato); "Não se deixe ficar nunca exposto às montanhas: quando você vê uma delas, pode estar sendo visto também"...
Todo o tempo a sombra de um sniper vai te perseguir, mais presente até do que o risco de uma bomba cair exatamente sobre você, o que é uma improbabilidade estatística que já matou milhares de pessoas. A idéia de que um atirador de precisão, usando uma lente telescópica e uma arma perfeita, possa estar te mirando é realmente assustadora, fonte do mais frio e mais estranho dos medos. cada vez que você se expõe (e você só o fará quando não houver outra opção), terá dentro da cabeça uma espécie de relógio contando "um, dois, três, quatro, cinco, seis..." para ver quanto tempo sobreviveu ao risco."......

Literatura Estrangeira