"Acho que começou na sétima série, quando me apaixonei por um canhoto e não tive descanso enquanto não escrevi perfeitamente com a mão esquerda. Ou então foi antes, lá pelos meus oito anos, no instante em que percebi que um vizinho mais velho só usava roupas vermelhas. Foi o que bastou para eu ter longas crises de choro cada vez que a minha mãe me ameaçava com um vestido rosa, verde ou amarelo. Poderia voltar ainda mais, aos meus cinco anos, no exato momento em que ouvi meu pai dizer que carne boa era carne com osso. O que me fez passar os trinta nos seguintes dividindo costelas gordas com ele, na tentativa de reforçar os laços de afeto entre nós dois. Pequenas coisas que fizeram de mim a pessoa que sou hoje. Uma canhota que só veste vermelho, come chuleta todos os dias e pode ser outra amanhã." Será verdade que as mulheres são seres indefiníveis? A autora mostra que essa é apenas uma simplificação da incrível capacidade de transformação feminina, um infindável poder de adaptação que quase leva Graça, uma mitômana compulsiva, às raias do absurdo. Uma engraçada visão da montanha-russa dos relacionamentos amorosos. Uma diversão para homens e mulheres.