A vendedora de fósforos

A vendedora de fósforos Adriana Lunardi


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A vendedora de fósforos





Uma mulher aproveita a folga de fevereiro para pôr em ordem a sua estante de livros. No meio da arrumação, é surpreendida por um telefonema: a irmã mais nova, que mora em outra cidade, foi internada após mais uma tentativa de suicídio. Depois de anos de separação, a mais velha é obrigada a rever o passado, essa caixa-preta de fraturas, angústias, segredos, recalques e escombros que, durante muito tempo, esquivou-se de inventariar.

O romance A vendedora de fósforos é um mosaico perturbador da relação entre duas irmãs.

Sob um eixo narrativo, a mais velha – que não é identificada por um nome próprio – descreve sua viagem rumo ao encontro daquela que foi hospitalizada. Uma segunda narrativa, à guisa de “memórias”, ilumina os episódios vividos entre elas até a chegada da vida adulta.

Neste passado, o microcosmo é uma família de classe média com hábitos peculiares. O pai, um contador inábil, estabelece uma rotina nômade para todos, fugindo de dívidas e de seu próprio passado. De tão frequentes, as mudanças de cidade inviabilizam a criação de laços que extrapolem o círculo familiar. A mãe resigna-se numa espécie muito particular de submissão, engalanada com tailleurs e sapatos de salto improváveis para o cotidiano de uma dona de casa. E o irmão mais velho intriga fonoaudiólogos com um problema incomum: é incapaz de referir-se a si próprio em primeira pessoa.

Imersas nesse sistema disfuncional, as irmãs estabelecem uma complexa relação que culmina no torturante jogo de espelhos. Alteridade e amálgama, sobreposição e jogos de sombra, comunhão e disputa. Tudo isso se mescla na torrente de fantasmas que é a vida compartilhada, base para que a autora construa uma narrativa engenhosa, rumo a um final surpreendente.

A vendedora de fósforos tomou o seu título do conto “Den lille pige med svovlstikkerne” (“A pequena vendedora de fósforos”), de Hans Christian Andersen. “Dá para mudar a história dos livros?”, indaga uma das irmãs. “Aquela é a história do Andersen. A minha eu conto assim”, ouve como resposta.

É a linguagem, afinal, que funde as duas irmãs-protagonistas deste romance. Ambas aspirantes a escritoras, constroem sua relação em jorros vocabulares e silêncios profundos; embaralham-se e azucrinam-se porque estão, como grande parte dos personagens de Adriana Lunardi, ousando experimentar as artimanhas da palavra.

Em seu segundo romance, Adriana Lunardi retoma os temas que marcam sua elogiada trajetória na literatura contemporânea, entre os quais o hálito da morte – sua presença nas entrelinhas –, como elemento que redimensiona a trama. A autora também volta a explorar as muitas faces da atitude narrativa, com o que ela tem de pecado e redenção, para interligar cacos de uma história contada de forma não linear, embaralhada e densa como é, sempre, a composição do passado.

Literatura Brasileira / Romance

Edições (1)

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on 25/10/11


Adriana Lunardi, em A Vendedora de Fósforos, nos oferece imagens elaboradas em um texto fluido. Capítulo por capítulo, o leitor vai tomando consciência do seu papel de coautor de uma obra-prima. Nada é dito por acaso, da dedicatória ao ponto final. Após a leitura, só resta a vontade de “não mudarmos o final”. Leiam e sintam. ... leia mais

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