"Líricas é um livro sobre o amor em suas várias facetas. É uma coletânea de contos de quem conhece esse sentimento comum de todos, imerso em tudo. A proposta, aqui, parece não ser narrar simples histórias, mas “escrever um abraço que atravesse o papel e que possa ser recebido por quem deixar cair os olhos nessas letras”. Dentre os diversos matizes do amor, conseguimos enxergar a sensualidade em contos como “Outra cama” e o lado pueril, genuíno do sentimento em “O amor, Maria?”. Jaya Magalhães chama canções e poemas em seus textos e demonstra que veio falar de lirismo, aquele que traz a libertação, conforme queria Manuel Bandeira. Já no primeiro conto, percebe-se que a autora escreve com uma sutileza própria e incomum. E toda essa intimidade com as letras só pode ser por um único motivo, segredado em “Retalhos”, quando a autora confessa: “minha caneta é sempre azul”. A poesia, em Líricas, escorre sem timidez e mostra que escrever não é pra quem sabe. É pra quem sente. Além disso, a autora, em sua gênese baiana, não esconde as alegrias de sua terra. Em “Solta”, faz pulsar todo o axé que carrega e ainda explica a que veio ao registrar: “insisto no que é lindo”. Líricas é um livro pra quem quer ler suas próprias experiências de amor: o amor desmedido, o amor tranquilo ou sereno, o amor insensato, o amor ousado. É possível encontrar-se em cada linha, o que torna a autora porta-voz dos mais silenciosos. Depois, ao fim, vem a resistência em fechar a última página. O sorriso incontido no rosto inteiro denuncia a sensação de ter a “alma balançando, desatada”. Sorte de quem se permite a leitura dessa vastidão de sentimentos jungidos. Sorte a nossa."
[Filipe Garcia]