Dias de Rock and Roll' aciona o universo da contracultura, marcado pela rebeldia, desejo e muitas viagens. Anderson Vick é um espírito livre, protagonista desse romance-roteiro. Sem dinheiro, moradia e emprego fixos, topa qualquer parada para ganhar a vida e viajar. Mas nem tudo acontece como manda o script, pois nessas viagens, o andarilho depara-se com situações inusitadas, marcadas por sexo, fugas, sequestros e 'otras cositas más'. Ironia, humor e rock and roll devem marcar o estilo da narrativa, ambientada num Brasil que precisa ser redescoberto ou, quem sabe, escondido.
“Os pés pelados no asfalto. Nenhum puto no bolso. Triste como um cinzeiro. Sozinho e esquecido, vaga pela rua deserta. Agoniza, feito lesma no sal. Tragar a alegria dos lares, sorver o suor de algumas taças geladas e mastigar a ossada da vizinhança, são suas metas.
Em meio à neblina um vulto atravessa. Grita: – “Feliz Ano Novo!”
Continua andando com a cara no chão. Quarenta e dois anos, sem amigos, o coração sepultado e a imagem da morte latejando nos bagos. Para. Respira fundo e, como o enfarte não vem, volta e refaz os planos.
Enfia a cabeça no tanque cheio d’água. Calça os sapatos. Pega a mochila e limpa da gaveta a grana da pensão cafofo-cosmorama. Novo em folha, volta pra rua. Despreza a chuva de prata que cai em câmera lenta. Aperta o passo, desce a rua Mère Amedea, desvia da igreja e adentra no Araritaguába-BAR. Ambiente tosco. Letreiros falham. Alguns gatos pingados festejam, outros conversam.
Engole vários conhaques. Fuma um cigarro e ri. Tosse forte. O catarro passeia do peito a garganta. Chega à boca. Lança um míssil de cuspe no ar.”