A memória é afetiva e seletiva. Na verdade, ela vai apresentando os fatos vividos a partir de um processo muito peculiar: dá primeiro as dores maiores, os momentos, em que vivemos situações-limite. Mas não pára aí. A memória sempre faz uma leitura épica onde, por pior que tenha sido o momento, nos coloca como heróis.
Nessas primeiras memórias apresento ao leitor, minha dor maior, meu primeiro exílio e a caminhada em direção ao paredón. Esses acontecimentos pertencem à história recente do Brasil e da América Latina. Muita gente viveu dores semelhantes e, por isso, fazem parte dessa história. Alguns estiveram ao meu lado e exerceram uma profunda influência em minha vida. Outros foram passantes.
Quanto aos pesadelos, estão todos presentes. É o inconsciente revelando sua visão do mundo vivido pelo escritos. É difícil dizer qual é maior: o pesadelo ou a realidade da dor. Ambos são terríveis e, por isso, se complementam. E fica mais fácil entender um, no debruçar-se do outro. É, inclusive, difícil dizer qual vem primeiro, já que o pesadelo pode ser sentido como futuro que se faz presente. E aqui ambos, pesadelo e dor, se fazem texto, esquizofrênico, estilhaçado, em pedaços, como a minha alma.