“O parto é algo que acontece entre as orelhas”,
me repetia Max o velho adágio das parteiras.
Não o procure nas dobras dos tecidos uterinos, nas protuberâncias ósseas, nas contrações ou nas variações dos hormônios.
Ele se encerra nos pequenos grãos de areia de nossos sonhos, na bruma de palavras dispersas de um passado distante.
Ele se refugia nos sussurros de uma menina, na curiosidade infindável que ela carrega e no seu olhar insaciável.
O parto e seus mistérios se escondem ao olhar superficial, à análise tímida e ao investigador amedrontado.
Para entender o que o comanda, é preciso penetrar nos abismos obscuros da alma de uma mulher, lá onde se abrigam seus sonhos e suas tristezas.
Quanto mais profundamente mergulharmos, mas nebulosa será nossa jornada.
Entretanto, apenas assim poderemos encontrar essa semente.
Talvez, apenas uma suposição, a chave para essa questão esteja mesmo ligada a essa fissura aberrante na ordem natural, a qual chamamos amor.
E talvez, outra mera suposição, para entender o que acontece entre as orelhas de uma mulher, somente se soubermos como encontrar esta chave.