Desde que o mundo é mundo, nos deparamos com situações de conflito produzidas pela ruptura de regras morais. E desde sempre um mesmo recurso está à nossa disposição para evitar esses conflitos: a desculpa. Adão, no Éden, quando se viu pressionado pelo Criador por ter praticado o pecado original, não pensou duas vezes e jogou a culpa em Eva.
Dialogando com vasto material teórico, que vai da sociologia clássica de Max Weber e Georg Simmel ao atual pragmatismo francês de Luc Boltanski e Laurent Thévenot, passando pela filosofia da linguagem de John L. Austin, Werneck propõe um inovador modelo explicativo para compreender não apenas o papel das circunstâncias na moral, mas toda a maneira como, por meio delas, mantemos de pé nossas relações sociais.
Para embasar sua tese, o autor pesquisa quatro casos de usos de desculpas: manuais que ensinam a dar desculpas eficientes; depoimentos da investigação do escândalo do Mensalão; situações da vida de casal; e o uso da velhice como desculpa para descortesias praticadas por idosos. De cada um deles – mas também de exemplos da ficção que vão das peripécias de Brás Cubas à comédia do cotidiano de Seinfeld, e de casos bíblicos que vão de Adão ao Bom Ladrão, passando pela Torre de Babel –, ele prospecta a maneira como nós, que damos desculpas, construímos as circunstâncias com que damos conta de nossas diferenças.