Antes de começar, uma palavra sobre o regionalismo, de vez que os poemas referem-se ao espaço urbano de Belém e, vez por outra, usam palavras dialetalmente “nossas”, e entre nós, paraenses, quando se fala de um poeta do Norte, sempre há a expectativa de que se valorize sua regionalidade, sem o que o comentário parecerá incompleto, ou superficial. Estes aspectos, explique-se, serão aqui considerados como auxiliares na construção do problema existencial, serão tratados como circunstanciais por força mesmo do modelo analítico aplicado e também pelo motivo de que os versos os utilizam deste modo. Uma possibilidade de articulação entre os vinte e seis poemas da obra é vê-los como expressão do tema da permanente ressignificação de tudo, da constante e até inexorável conversão de uma coisa em outra, como se tudo se diluísse naquela verdade do rio que é misturar-se ao mar, pois tudo é agua, síntese, aliás, muito apropriada aos poemas da obra. O termo, o objetivo desta conversão, travessia, passagem, às vezes aceito com melancolia, às vezes repudiado com indignação, varia bastante de poema para poema, mas, quase sempre, leva a pensar que tudo está a serviço de uma alquimia em que coisas, seres, fatos, emoções, estão destinados a serem convertidos, muitas vezes, na própria poesia.