O texto de Marcio Felippe procura entender o que ocorreu no intervalo entre a visão mecânica do século 17, e a puramente física ou epistemológica de nossa época. Para isto, ele retorna ao jusnaturalismo, às idéias de precisão e liberdade que permeiam o pensamento estóico, tomista, e outros, mostrando que eles não se amoldam perfeitamente no retrato preto e branco produzido pelo positivismo jurídico. Há mais para ser pensado, na tradição jusnaturalista, do que imaginam os rigorosos - entendendo-se por isto o rigor mortis - cientistas do Direito. O que não será perdoado no livro de Sotelo Felippe é a violenta constatação de que, não apenas os totalitários "oficiais", mas também honrados teóricos, inclusive os que se arvoraram em discípulos de Kant, também serviram, e servem, na tarefa de eludir a digna liberdade dos homens, com o pretexto de exorcizar os últimos redutos metafísicos. Na caçada à "coisa em si", os amigos de Hans Kelsen, começando por ele próprio, fornecem exemplos que nada perdem, em termos de "realismo", aos escritos decisionistas.