Muito se fala sobre a influência dos povos africanos na formação da cultura brasileira, mas pouco se sabe sobre as origens desse processo. José Ramos Tinhorão vem preencher a lacuna neste livro que reúne os primeiros registros das manifestações musicais dos negros no Brasil, praticamente ignorados pela historiografia mais tradicional. Recorrendo às mais diversas fontes de pesquisa, como cartas de missionários jesuítas, pinturas de Frans Post, poemas de Gregório de Matos e relatos de viajantes, entre outros documentos raros, o autor resgata momentos-chave que sintetizam a gênese de uma cultura especificamente brasileira - nem africana, nem européia, nem indígena. Nela, os rituais religiosos trazidos da África pelos escravos, mesmo proscritos, vão gradualmente se transformando em ritmos, coreografias e cantos autônomos, inicialmente cultivados pela população mestiça e, num segundo momento, dentro dos teatros e das casas dos brancos, já sob a forma de canções ou danças como a fofa, o lundu e o fado. Abordando também os autos de coroação dos reis do Congo, que darão origem ao maracatu pernambucano e ao afoxé baiano, e os cantos de trabalho dos escravos no campo e nas cidades, "Os sons dos negros no Brasil" ilumina uma série de fatos culturais que estão na base daquilo que se denominaria música popular brasileira.