O vento forte assobiou pelas frestas da janela de madeira e entrou no seu sonho. O assobio foi como uma mensagem muito antiga que penetrou em sua mente, fazendo desfilar por ela muitos rostos e silhuetas de seus antepassados, que habitavam aquela terra desde tempos remotos.
Os dez mil anos de história de seu povo passaram pela sua mente adormecida, como se quisessem revelar quem era ela e a que mundo pertencia.
Reviu seu povo morando em cavernas, caçando, pescando, dançando ao redor de fogueiras, catando conchas, pegando pequenos animais para comer, guerreando, fazendo festas e rituais em volta de árvores, se amando coletivamente. Viu os primeiros agricultores plantando no chão e erguendo cabanas, colhendo a mandioca e o milho, fazendo fogo e cozinhando em aldeias circulares, com ocas cobertas de palha.
Então, viu um rosto de homem e outro de mulher, rostos muito amados, que a abrigavam do frio e a alimentavam. Viu essa mulher se dirigir à cacimba das suas lembranças para pegar água, e ela ia junto, brincando com as folhinhas que boiavam, assim como as outras crianças, meninos e meninas. Viu seu rosto: era sua mãe.
Romance