Como produto de uma lenta e complexa evolução cósmica-geológica-geomorfológica-ambiental, foram produzidos no planeta Terra, Paraísos Tropicais, nos quais se instalaram ecossistemas altamente produtivos e diversificados biologicamente, que atrairiam, milenarmente, populações de povos coletores e pescadores, que se harmonizavam com os limites da natureza. Um desses paraísos tropicais era a Baía de Guanabara, com seus complexos, diversos e produtivos ecossistemas periféricos. Com o mercantilismo, primeiro estágio do capitalismo, estes paraísos foram (des)cobertos pelos europeus e utilizados no processo de produção e reprodução do capital, baseada na mão de obra escrava e rapinagem dos recursos naturais. Nos diversos estágios do capitalismo, que sucederam a colonização, espaço, natureza e homem foram transformados em objeto de lucro e de acumulação.
Atualmente, a bacia contribuinte à Baía de Guanabara, apesar da importância histórica, econômica, cultural, científica, social e ambiental é um dos ambientes costeiros mais degradados do país, tanto do ponto de vista ambiental, quanto social, sendo exemplo emblemático do caráter predatório da colonização e dominação dos países do Terceiro Mundo.
Há poucos anos da virada do milênio e da "comemoração" dos 500 anos da invasão e colonização do Brasil (e do desvendamento da Baía de Guanabara para o mundo ocidental), é oportuno que se faça um balanço da história desta dominação.
Com base nos resultados de estudos que vêm sendo realizados, pelo autor, na UFRJ, desde o final da década de 60, sobre a região da Guanabara, são reconstituídos os cenários paleogeográficos mais significativos da história da evolução da baía. Usando os processos históricos e as condicionantes geográficas, como fios condutores, e tendo como ponto de partida o cenário natural reconstituído, são buscadas as origens do atual quadro de degradação ambiental e humana da região da Baía de Guanabara.