O "caso Galileu" estabeleceu o compromisso das ciências experimentais contra o poder da ficção, contra a idéia de que a única vocação racional para uma teoria é "salvar os fenômenos", ou seja, simulá-los sem pretender penetrar em seu sentido. Pode-se doravante conceber a possibilidade de uma história em que o parêntese então aberto estaria a ponto de se fechar, em que o poder da ficção, afirmado e vencido pelo acontecimento experimental, voltaria a ser o horizonte das práticas científicas. Este novo possível constitui, para os próprios cientistas, um problema político: como regular as relações entre os integrantes de dois tipos de laboratórios, vetores de modos divergentes de compromisso? Porém ele já contribui para transformar a maneira pela qual certos alvos-chave na história das ciências modernas se propõe, isto é, para introduzir uma forma de humor aí onde reinava a estética trágica de uma ciência redutora devotada e nivelar as diferenças.