Luciano Luíz 12/04/2024
A primeira vez que li O MENINO MALUQUINHO do ZIRALDO, não lembro com exatidão, mas foi em 1984 ou 1985, quando tinha entre 6 e 7 anos. Ou como se dizia antigamente, quando eu usava calças curtas. Durante todo esse tempo eu relembrava do livro. O mais interessante é que algumas frases e ilustrações jamais desapareceram da memória. É como se eu ainda estivesse naquele passado distante vendo e lendo com nitidez.
Então queria reler para saber se eu ia sentir algo diferente, se o livro tanto em suas palavras quanto em imagens realmente continuava sendo tão bom. Só que a gente vai deixando umas coisas de lado e assim 40 anos passaram. Naquela época o livro ainda era, digamos mais ou menos recente.
Essa semana resolvi voltar no tempo e a minha opinião é a seguinte: em questão de visual o livro continua maravilhoso. Com aquele traço dinâmico e convincente. O olhar do personagem passa com facilidade todas as suas emoções: alegria, tristeza, as traquinagens, dúvidas, medos e por aí vai. Realmente um trabalho de respeito.
No quesito história é também caprichado, pois a rotina do menino aliada a seus sentimentos lhe convence de que ele é real e vive mesmo sua vida rodeado das coisas boas e más.
O vocabulário é bom, possui palavras que há 44 anos (quando foi publicado pela primeira vez) eram mais comuns na vida das pessoas. Hoje algumas dessas palavras são consideradas ofensivas por uns e outros. Ou devido a cabeça repleta de merda dos adultos que veem maldade em tudo. E sem contar que há também referências ao regime militar de uma forma bem humorada.
Enfim, pra mim é um livro que emociona, pois quando eu era criança entendi pouco dele. Apenas o que era mais simples como algumas brincadeiras e o futebol. Agora depois da releitura senti pena do menino em algumas coisas, principalmente quando há uma separação na família. O pai prum lado, a mãe pra outro e ele ali no meio e depois sentado num canto com aquela carinha de quem pouco ou nada tá compreendendo do que tá ocorrendo.
No meu entendimento O MENINO MALUQUINHO não é exatamente apenas um livro infantil, mas também destinado a um público mais velho, e não me refiro a adolescentes e sim aos adultos. Porque ali vemos uma história de vida de alguém que tá passando por coisas que muita gente do mundo real passou e passa. A criança pode entender algumas coisas (como eu entendi) mais simples, mas o livro em si é uma obra que vai além. Pode ser lido por todos os públicos de todas as idades, mas a gente só tem uma visão completa depois que os anos passam.
Outra coisa curiosa é que a vida do menino maluquinho já não é mais a vida das crianças reais. Nem todas mais brincam na rua ou jogam bola, até porque nas ruas dependendo do lugar é mais perigoso a diversas circunstâncias. Mas o que mais vejo quando ando pelas ruas ou vou ao mercado, são crianças, a maioria ainda bebês de colo, com smartphones nas mãos. Os pais acham bonito, pensam que seus filhos vão virar gênios da tecnologia ou influenciadores, mas a verdade é que estão apenas barrando parte de uma coisa não volta mais. Criando adultos infantilizados que não conhecem limites de quaisquer coisas.
Ah, reler o Menino foi voltar também em parte à minha vida de criança. O Ziraldo morreu há poucos dias e eu em todos esses anos prometendo a releitura. Há outros livros com personagens geniais do autor: Pererê, Julieta (a menina maluquinha), a professora, etc., mas é aqui onde a coisa realmente começa para não mais ter fim. Pois fica sempre contigo.
L. L. Santos
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