Comunidade e Democracia

Comunidade e Democracia Robert D. Putnam




Resenhas - Comunidade e Democracia


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Camila 22/05/2019

Leitura feita para disciplina de RI no Mestrado de Políticas Públicas (UFPE).
Melhor análise que vi até então sobre o funcionamento das instituições dentro de um regime democrático.
O autor examina especificamente os primeiros 20 anos da implementação dos "governos regionais" na Itália, e investiga as razões de seus diferentes desempenhos - a despeito das 20 regiões possuírem o mesmo formato institucional.

As análises são muito bem fundamentadas, recorrendo não apenas aos estudos de caso, entrevistas e sondagens nacionais, mas a indicadores estatísticos de desempenho e testagens, com métodos bem descritos e adequados ao exame proposto. Os dados coletados são analisados em conjunto, o que permite conclusões mais solidas e que ajudam a compreender melhor o desempenho das instituições.
Realça, por tudo que desenvolve na obra, a importância de se construir uma cultura cívica e empenhar-se por sua consolidação (o que se aplica não apenas a realidade italiana).
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Álisson Ferreira 22/01/2015

Visão sobre capital social e como é gerado
Robert D. Putnam é Professor de Relações Internationais em Dillon, Diretor do Centro de Relações Internacionais na Universidade de Harvard e membro do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial.

Em seu livro Comunidade e Democracia, a experiência da Itália moderna , Putnam tem por objetivo contribuir para a compreensão do desempenho das instituições democráticas. Questionando, por quais razões alguns governos têm melhor desempenho que outros?

Pesquisas semelhantes foram realizadas por diversos autores, nos mais variados países. Mas Putnam faz proveito de condições que acentuam suas conclusões sobre o assunto. Estudo que percorre mais de duas décadas de investigações por toda a Itália, a partir da década de 70. Onde a criação de governos regionais tem início, provocando mudanças consideráveis na vida de toda comunidade italiana.

Nos primeiros capítulos do livro, Putnam faz o mapeamento das regiões estudadas, os métodos usados para levantamento de dados e, a participação de colaboradores, consequência da amplitude das pesquisas. Descrevendo como se procedeu a criação dos governos regionais e, como eram as relações com o governo central. Mais adiante, desenvolveu uma avaliação do desempenho desses governos regionais, vistos que os recursos disponibilizados pelo governo central era o mesmo para todo os governos regionais da Itália. O autor utiliza doze indicadores para demonstrar quais regiões possuíam maior ou menor desempenho do que outras, como saúde, agricultura, educação, meio ambiente, dentre outras.

Este estudo apresentou contrastes entre os governos regionais, literalmente dividindo a Itália ao meio. Sendo uma parte com regiões mais prósperas e outras menos. Como o objetivo de Putnam não é descrever e, sim compreender a causa dessas divergências, autor concentra-se em duas outras possibilidades genéricas para entender o resultado obtido. A primeira, seria a modernidade socioeconômica, consequência da Revolução Industrial e a segunda, a “comunidade cívica”, ou seja, padrões de participação cívica e solidariedade da sociedade italiana. Conceituando esses dois pontos, o autor descreve os efeitos da migração do campo para as fábricas, o aumento da renda e do padrão de vida das pessoas, a transformação ocorrida nas classes sociais, a elevação dos níveis educacionais e sanitários e, a capacidade econômica e tecnológica ligada à Revolução Industrial e, enfatizando algumas características da comunidade cívica, quanto à participação das populações nos negócios públicos, fatores como igualdade política, solidariedade, confiança e tolerância, associações, estruturas sociais da cooperação.

Para avaliar quais regiões eram mais e outras menos cívicas, Putnam usa aspectos como número de associações locais, índices de comparecimento a referendos e voto preferencial, participação na política (não em quantidade, mas em qualidade), proporção de leitores de jornais, entre outros fatores pertinentes. Esses aspectos influenciam na percepção das regiões que apresentam um maior ou um menor engajamento cívico.O resultado foi novamente à Itália dividida ao meio.

Não contente, o autor utiliza-se de métodos que relacionam o desempenho dos governos com a comunidade cívica, utilizando pesquisas sobre o grau de clientelismo existentes nas regiões, apoio dos líderes a igualdade política, republicanismo, reforma eleitoral, religiosidade e outros fatores. Com esse novo levantamento de dados, o autor conclui que esses dois fatores estão intimamente ligados, pelo menos no caso da sociedade italiana.

Nos capítulos finais, o autor apresenta um estudo sobre as origens da comunidade cívica, desde a Itália Medieval, as guerras, pestes, invasões, mudanças no modo de produção e sua influência nas tradições cívicas até os dias atuais, após a criação dos governos regionais. Abordando também o desenvolvimento socioeconômico em consequência da Revolução Industrial e, suas influências na atualidade, demonstrando qual desses dois pontos tem maior “peso” no desempenho institucional dos governos regionais.

Ao final, Putnam discorre sobre o capital social, confiança e associações de crédito rotativo, demonstrando que o conceito de capital social surgiu como um dos componentes essenciais nos processos de desenvolvimento. Assim como existe capital financeiro, capital humano e capital tecnológico, existe o capital social que é um recurso que ajuda a sustentar a comunidade. A democracia esta aparentemente ligada ao desenvolvimento do capital social, encarnado na cooperação dos cidadãos em pequenos grupos, tais como sociedades corais, clubes de boliche e associações de pais e mestres, dentro outros. Afirmando que o capital social encoraja a colaboração entre membros dos grupos para benefício mútuo. Concluindo que a vida em comunidades com mais capital social é mais fácil que em comunidades com menos capital social. Onde o desenvolvimento regional está diretamente ligado às características da organização social e das relações cívicas encontradas na região.

O capital social pode ser compreendido como sendo um conjunto das características da organização social, que englobam as redes de relações, normas de comportamento, valores, confiança, obrigações e canais de informação. Quando existente em uma região, torna possível a tomada de ações colaborativas que resultam no benefício de toda comunidade, ou seja, uma habilidade de criar e sustentar associações voluntárias. Facilita a cooperação espontânea, sob a forma de regras de reciprocidade e sistemas de participação cívica. Onde a confiança é um componente básico do capital social. A exemplo, são as associações de crédito rotativo, fundamentadas em grupos que aceitam contribuir regularmente para um fundo que é destinado, integral ou parcialmente, a cada contribuinte alternadamente. Variando bastante em tamanho, composição social, organização e critérios para determinar as contribuições.

As normas e redes de engajamento cívico (capital social) podem melhorar a educação, diminuir a pobreza, inibir o crime, incentivar o desempenho econômico, promover um governo melhor e até reduzir a mortalidade. Ao contrário, as deficiências de capital social contribuem para muitos males sociais, econômicos e políticos. Afetando o desempenho do governo representativo. Esta foi à conclusão central do estudo de vinte anos dos governos regionais da Itália. Embora parecessem idênticos no papel, os níveis de eficácia desses governos foram extremamente variados e divergentes, conseqüência do desenvolvimento de uma sociedade mais cívica em certas áreas e, em contrapartida uma sociedade voltada para clientelismo e outras regiões italianas.

Putnam apresenta de forma clara e objetiva, através de pesquisas que ultrapassaram décadas dentro da sociedade italiana comprovando a importância do capital social para o desempenho das instituições regionais no país, e vai além demonstrando a eficiência do capital social em outras situações, como no caso do crédito rotativo, cooperativas diversas e outras. Essas informações são indispensáveis não somente no caso do desempenho de governos, mas também quando levamos esse conceito – capital social - para dentro das organizações sociais, pois onde exista pessoas comprometidas com a confiança, cooperação, solidariedade e honestidade, é maior a probabilidade do sucesso de todos.“As comunidades se desenvolveram, em resumo, devido às redes e associações... Nessas comunidades os cidadãos são engajados nos negócios públicos, confiam uns nos outros e obedecem à lei. Solidariedade, participação cívica e integridade são valorizados. Elas se tornaram ricas porque havia civismo e não o contrário. O engajamento cívico parece ser condição do desenvolvimento, independentemente de estruturas de governo, estabilidade social, partidos políticos ou ideologia”.(PUTNAM,2005)
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