Carol 22/01/2023Impressões da CarolLivro: Solo para vialejo {2019}
Autora: Cida Pedrosa {Brasil, 1963-}
Editora: CEPE
125p.
O último dia da #flip2022 trouxe uma das conversas que mais reverberou em mim. "O brando leque do gentil pomar" reuniu @cidapedeosa65 e @teresacardenascuba, para invocar o Sertão brasileiro, Cuba, ancestralidades, músicas, poéticas, olhares de rara beleza. Voltei deslumbrada.
O deslumbre permaneceu durante a leitura de "Solo para vialejo", de Cida Pedrosa, livro do ano do Jabuti, em 2020. Um grande poema, no qual a oralidade e o lirismo têm papel central.
O xote, o blues, o baião, a jovem guarda, o folk, o sertanejo, o jazz, ritmos que embalaram a infância da autora, em Bodocó, interior de Pernambuco, servem como fio condutor de uma narrativa com fundo épico.
A jornada dos indígenas, negros e portugueses do litoral ao interior do Brasil, ao Sertão.
"antes de os homens brancos chegarem
com seus navios cheios de negros tristes e sem destino
éramos apenas aqueles que habitavam
um solo flor
um solo flor
um solo flor
um solo flor" p. 28
"e depois do planalto da borborema
pora-pora-eyma
pora-pora-eyma
pora-pora-eyma" p. 32
"a sanfona de luiz
pungente espaço para a saudade
...
lua luz luiz
negro negro negro
mesmo sem entender sê-lo
negro." p. 50
"o guimarães sabia dos aboios das suas métricas
dos seus lamentos e da sua androginia
diadorinizada nos corações de riobaldos" p. 87
"as mãos da minha mãe hermínia
e o som das suas teclas nem sempre afiadas
foram
minha primeira experiência com deus" p. 95
A memória da poeta conexa à memória coletiva, de um povo, de um país. Um repertório de vozes, de sons, de ritmos. Lugar de cultura e de formulação histórica, pois não há como ler "Solo para vialejo", sem pensar no seu caráter político, sem se atentar às intertextualidades e no alargamento da memória, da escrita e do imaginário. É lindo.