A vida verdadeira de Domingos Xavier

A vida verdadeira de Domingos Xavier Luandino Vieira




Resenhas - A vida verdadeira de Domingos Xavier


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Diego Luz 05/05/2024

Domingos Xavier
Uma verdadeira luta contra a estrutura do poder colonial, do fascismo e do capital.

A obra apresenta uma narrativa com diversos personagens que vai trazer a tona a prisão de um angolano, desconhecido até então, magro, alto que fora preso sem motivo os ou precedentes. Um trabalhador, tratorista, que percebe as múltiplas facetas da opressão e num ato heroico e de luta pelo seu povo, faz do silêncio a sua arma valiosa para a guerra narrada na novela de Luandino.
Este silêncio, faz com que Domingos Xavier seja torturado até a morte, mas o que percebemos é que Domingos foi construído como símbolo de uma nova identidade Angola. Mesmo que sua morte seja brutal, a marca de resistência frente ao poder colonial está firmada.

Vale e muito a leitura!
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Henrique 18/10/2019

Luandino Vieira seleciona um arquétipo de herói angolano para combater o colonialismo. Sabe-se que José Luandino Vieira esteve presa, mas é na experiência comunitário em contraste com as torturas sofridas pelo protagonista que se constitui a tensão do livro.

O objetivo da denúncia material e a construção da cultura é formalizar, na classe do povo, uma ideia de nova identidade social, insubordinada ao capital e à colonização europeia (não à toa dançam-se, também, ritmos brasileiros e cubanos nas farras nos musseques).

O autor participou dessa construção depois do fim da colonização na tentativa evidente de estabelecer uma perspectiva em que a questão de classes fosse crucial. Um intelectual com posição evidente contra o salazarismo

O livro conta-nos história de um protagonista que tem dois companheiros, o colega de profissão Sousinha e o engenheiro branco SIlvestre. O engenheiro, aliás, é o branco de quem a administração colonial quer tanto saber quando prendem Domingos Xavier.

O sequestro de Domingos Xavier desenrola diversas subtramas ligadas, em primeiro plano, às questões de classe que confirmam a soberania totalitária da colonizadora. A escrita expressa o ponto de vista coletivo de quem está se organizando para que mudanças ocorram na colônia.

Luandino Vieira seleciona esses questões de modo que é questionada toda a lógica social do que submete Angola aos poderosos. Luandino Vieira, à época da escrita do romance, está num país a beira da guerra de libertação, articulando oposições e também, artisticamente, alinhando forma e conteúdo de forma a mostrar que o homem angolano esta indissociável de sua terra.

Encontramos diversos personagens organizados sob a lógica marxista do alfaiate Mussunda, criando uma rede de resistência em todos os pontos de cidade, de forma inteligente e muito pouco perceptível.

Um momento emocionante na narrativa é quando, em pensamento, Domingos Xavier dialoga, em pensamento, com os "irmãos" que estão distantes e confiam em sua resistência para poder prosseguir com as operações de insubmissão clandestinas.

Querer que o angolano tome consciência de si enquanto indivíduo capaz de fazer do país Angola uma potência própria é o ponto central na apresentação de Domingos Xavier como um digno herói nacional.

Interessa que este herói seja um exemplo na construção da nova identidade angolana, livre das interposições forçadas de Portugal. A morte de Domingos Xavier é brutal, não condiciona nenhuma resposta simples, mas deixa um marco para sua comunidade: de resistência e de que uma Angola verdadeira seja, talvez, possível.

Conceber uma nação angolana é impossível sob a lógica nação-estado imposta pelo capital transnacional, por isso é necessária, fundamental, a subjetividade dos próprios angolanos na construção de um país livre das garras internacionais.

Há, na novela, uma luta estrutural contra o capital, o fascismo e o poder colonial.
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