Paulo Sousa 01/07/2023
Leituras de 2023
.
Desvarios no Brooklyn [2003]
Orig. The Brooklyn Follies
Paul Auster (??, 1947- )
Cia das Letras, 2005, 328p
Trad. Beth Vieira
_____________________________
?Quando a pessoa tem sorte suficiente de viver dentro de uma história, de viver dentro de um mundo imaginário, as dores deste mundo somem. Pelo tempo que durar a história, a realidade deixa de existir? (Pág Kindle 132).
.
Prestes a completar sessenta anos, Nathan Glass acha difícil vislumbrar um futuro para si. Compulsoriamente aposentado devido a um câncer em aparente processo de remissão, recém-saído de um casamento falido e rejeitado pela única filha, busca um lugar tranqüilo para morrer.
.
Muda-se então para o bairro nova-iorquino do Brooklyn, onde nasceu, onde espera encontrar um final silencioso para uma vida triste e absurda. Quer o acaso, porém, que Nathan não só não morra como se meta em várias peripécias, como a desencadeada por sua paixonite por uma jovem garçonete - e a conseqüente ameaça de morte que lhe dirige o marido brutamontes da moça - e confrontos involuntários com um membro de uma seita cristã ultrafundamentalista. Além disso, sua amizade com um vigarista falsificador de obras de arte dará origem a outra série de encrencas.
.
Por uma das inúmeras coincidências que se sucedem ao longo do romance, Nathan encontra o sobrinho Tom Wood, a quem não vê há anos. Assim como o tio, Tom está sem rumo, fugindo do que poderia ter sido uma carreira acadêmica promissora, do amor e da vida em geral. O reencontro dos dois é seguido de perto pela entrada em cena da sobrinha de Tom, garota esperta de nove anos que surge do nada na soleira do quartinho onde vive o tio, sem bagagem nenhuma, recusando-se a revelar o paradeiro da mãe.
.
Enquanto entretém o leitor com as aventuras desses e de outros personagens cujas vidas se esbarram e se entrelaçam, Paul Auster, escritor que ultimamente tem ganhado espaço na minha vida de leitor, explora com brilho o terreno mais vasto da América contemporânea - em que sonhos desfeitos e desatinos humanos se combinam de maneira única, e é esse, acho eu, o aspecto mais pujante da prosa de Auster: a de explorar com maestria o que há de mais humano em vidas aparentemente simples. Vale!