Sabrina758 04/03/2023
Como sempre, a escrita da Sally Rooney me transporta para um lugar de estranheza e conforto ao mesmo tempo. Essa predileção de escrever sobre solidão, pertencimento, não saber quem é, estar emocionalmente investida em algo/alguém, está sempre presente nos escritos de Rooney.
Personagens femininas instáveis, figuras masculinas ausentes ou problemáticas, questão sócio econômica, como denuncia o título, Mr Salary. A relação entre Sukie e Nathan bate numa questão moral forte: Nathan, um homem mais velho que a acolheu em casa, ainda aos 19 anos, num momento preciso para que terminasse os estudos com apoio que não tinha do pai. Nathan é uma figura de referência para Sukie, que representa segurança em diversos âmbitos, mas isso não a impede de se apaixonar e interessar por ele com o tempo.
Nathan, 15 anos a frente de Sukie, tenta frear que a relação entre eles ultrapasse a barreira da cordialidade/amizade. Porém, ambos se sentem frustrados por não poderem fazer o que querem: ficarem juntos. Após sair da visita ao seu pai, que está em tratamento para um tipo agressivo de leucemia, Sukie presencia uma cena que aparenta ser uma vítima fatal de afogamento em resgate. Ela para, assim como todos ao redor, para presenciar aquilo, até que o que parecia ser um corpo, revela-se um objeto que fora retirado da água.
Refletindo sobre a efemeridade da vida e a importância que damos para a morte ? algo inevitável ?Sukie pensa no tempo certo das coisas, no desejo e sobre se privar de ficar com Nathan porque as pessoas falariam. Até onde estamos dispostos a negar algo que sabemos que nos faria mais feliz?
Apesar de ter gostado bastante do conto, a sensação de que era um rascunho de livro descartado foi muito forte pra mim. Não pela quantidade de páginas, mas a forma em que acabou sem ter, propriamente, uma conclusão.