Hipólito 21/06/2016
Mais que um livro, uma conversa!
De forma irreverente, descontraída e com artimanhas didáticas simples e precisas os autores discorrem sobre a vida boa em 207 páginas, bem-dispostos em dez capítulos.
Os autores Clovis de Barros Filho e Arthur Meucci abordam questões fundamentais da existência humana, utilizando diferentes enfoques por meio da formulação do pensamento, dos mais destacados nomes da filosofia, de Sócrates e Platão a Espinosa e Nietzsche, aplicados a situações do cotidiano, para que o leitor possa resistir, cada vez melhor, contra todo tirano que pretenda empurrar-lhe goela baixo a vida que vale a pena
A título de síntese, seu conteúdo é parte de uma inquietação. A denúncia das fórmulas facilitadoras da vida. Coube aos autores, a fundamentação teórica desta denúncia. Para tanto, recorreram a escritores consagrados, que deixaram traços sobre o senso comum até hoje. Portanto, vai-se na contramão dos manuais de autoajuda. Que se funcionassem de fato, teriam erradicado a tristeza do Mundo.
A leitura se faz deleitosa, pois os autores primaram pela filosofia complexa e bruta, mas com os recursos didáticos, aliados aos trechos de livros transcritos e destacados como, por exemplo, textos extraídos do livro: O Banquete, de Platão, algo que deveria exigir muito da sua capacidade intelectiva para a interpretação dos textos, torna-se algo simples, leve. E com os exemplos pessoais de cada autor, volve-se descontraído.
Durante a leitura você navega pelos meandros da sua consciência, campeada por memórias e sentimentos póstumos. Que, a princípio você não sabia, a causa do enfado inexplicável após a compra do seu novíssimo Playstation 4, tecnologia de ponta, restrita a pouquíssimos privilegiados. Com a leitura, você descobriu, que Sócrates dissera que amor é desejo. E desejo é o que nos faz falta. Assim sendo, nós amamos o que desejamos, e desejamos aquilo que não possuímos. Você achou o liame, entre a compra e a tédio, o enfado foi originado pela compra. Pois quando o desejo acaba o amor acaba por consequência. A presença gerou o aborrecimento. Ideia replicada pelo autor vezes e vezes. Em vídeos, palestras e aulas. A compilação disto tudo é o livro, o que explica o modo falado em que os autores escrevem, que nos dá a impressão de uma conversa desenvolta com os autores. Ao ponto de se escutar a voz de entonação enérgica do professor Clóvis. Digno de nota. Preclaro.
Concluo, minha crítica e acrescento que é um livro altamente recomendável, e quase uma leitura obrigatória para quem pretende desvendar os mistérios da vida. Onde, segundo o professor Clóvis: “Não há gabarito para vida, que – independentemente da escolha – sempre pairará a suspeita do erro, o arrependimento”.
Ressalvo, porém, que sua consciência não será açodada ao badalo do erro após a compra deste livro, pois, além do enriquecimento de seu repertório de filosofia teórica. Lembrar-se-á da alegoria do pêndulo de Arthur Schopenhauer, (supracitada pelos autores na página trinta e quatro, capítulo II, parágrafo III) ao final da leitura.
Enquanto você não tem o livro, seu amor permanecerá ardente, erótico. Eu, por outro lado estou fadado ao tédio. Uma vez que eu já concluí a leitura, e na pilha eu só tenho ficção.