Sodebayashi 07/10/2023
Leiam com cautela
Introdução decente e muito mal escrita (sério, como o revisor deixou passar esse tanto de erro e falta de coesão/coerência?) sobre o Transtorno do Espectro Autista a partir da visão de um acadêmico. Exploram-se quase apenas os aspectos biológicos e possibilidades intervencionais do TEA, e todas as menções ao imbricamento do autismo com a sociedade e política são relegadas aos cantos da obra, como se o autor tivesse sido obrigado a incluí-las a contragosto. Pouco ou nada se discorre sobre neurodiversidade, capacitismo, masking, autismo e interseccionalidade, movimento de direitos dos autistas...
Para o leitor com senso crítico, aliás, quase todas as informações presentes no livro, à revelia das invectivas lançadas contra o ambiente desregrado que é a internet, podem ser encontradas facilmente com uma busca no Google.
O livro carrega ideias extremamente ingênuas (para não dizer cientificistas) sobre o papel da ciência, contrapondo fé e razão na história do Ocidente como se esta superasse aquela ao decorrer do tempo, numa progressão tosca partindo do mito e da fé até chegarmos ao suposto cume racional hodierno. Sempre desconfiem de um livro cujo prefácio elogia a meta de procurar respostas "não enviesadas", ou seja, supostamente neutras, científicas, "objetivas". Falta um pouco de antropologia e sociologia. Não dá para relevar isso, mesmo num livro que se propõe a ser uma brevíssima introdução ao tema. A propósito, para os fofoqueiros de plantão, não estou defendendo uma volta acrítica às ideias psicanalíticas antigas, tampouco sou psicanalista, porém a obra me parece desesperada demais para defender o ABA das "garras" da tradição arquitetada por Freud.
Curiosamente, embora Lucelmo Lacerda cite a teoria da mente (e até a teoria do autismo como cérebro hipermasculino), não há nenhuma alusão à ideia de Damian Milton, pesquisador autista, sobre o problema da dupla empatia.
Enfim, leiam o livro com cautela.