pimet800 31/10/2023
Contos curtos, mas que parecem longos!
A versão do livro disponível no plano Prime, da Antofágica, possui os três contos que o autor escreveu sobre o protagonista Auguste Dupin: "Os Assassinatos na Rua Morgue", "O Mistério de Marie Roget" e "A Carta Roubada".
Foi minha primeira leitura de Poe, e isso é importante deixar claro.
É inegável que o autor possui uma escrita cativante, exceto quando resolve juntar um compilado de matérias de jornal uma atrás da outra, e habilidade em criar atmosferas misteriosas. Os enigmas e os métodos analíticos empregados por Dupin são fascinantes. No entanto, tenho de confessar que o desfecho dos contos deixou muito a desejar.
"A Carta Roubada" foi o que menos me incomodou. Até por se tratar se uma situação bastante inusitada, não é como se exigisse uma conclusão tão mirabolante. Já para os outros dois, não existe defesa! Experimente contar a alguém que não leu o livro que o assassino de "Os Assassinatos da Rua Morgue" é o que se revelou no final e observe a reação de perplexidade.
Já o conto baseado em história real, "O Mistério de Marie Roget", é tenebroso. Não há contexto que salve um desfecho, ou melhor "um não desfecho", como aquele. Que preguiça do autor! Tendo em conta que o texto era baseado, e não a transcrição na integralidade, em algo que ocorreu em nosso mundo, ele tinha total liberdade para inventar o que quer que fosse, alterando nomes, acontecimentos e tudo o mais. A desculpa de encerrar a escrita abruptamente em respeito à vitima ou porque o autor supostamente estava se tornando suspeito no caso não justifica sequer a publicação do conto. Pobre do leitor desavisado! Ademais, a própria escrita tem problemas de ritmo, pois Dupin dá voltas, voltas e mais voltas somente para dizer que o assassino não foi A ou B. O conto parece ser longo, mas na realidade é curto, e isso considero problema de ritmo.
Finalmente, eu diria que não sou muito fã desse tipo de história em que você não tem a menor ideia de quem ou do que possa ser autor do crime. É uma viagem no escuro para lugar desconhecido. Ao fim da leitura, qualquer resposta poderia ser dada para a conclusão do caso, pois não havia elementos que lhe permitissem sequer chegar perto de adivinhar o que ocorreu. O assassino do primeiro conto poderia muito bem ser o assassino de Marie Roget, só para dar um exemplo. Nesse ponto, acho a escrita de Agatha Christie mais elegante, em diversos aspectos, nos quais as pistas são fornecidas de plano, cabendo ao leitor se atentar aos detalhes para descobrir o autor do crime. É claro que na maior das vezes o leitor vai se equivocar e se surpreender, mas não se sentirá enganado pelo desfecho.
Por se tratar de inauguração de gênero literário e pelo fato de o autor escrever muito bem, em que pesem os desfechos e o estilo prolixo, atribuo nota 3 ao conjunto. Pretendo ler outras coisas do autor em breve.
Nota 3/5