O Dossiê Rubicão

O Dossiê Rubicão Ramiro Batista




Resenhas - O Dossiê Rubicão


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Ramiro Batista 06/06/2010

O dossiê Ramiro Batista
Análise de Tião Martins, jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte-MG:

Alguém já disse que o Brasil não é para amadores.
E, alterando sem licença o que escreveu Millôr Fernandes, se os homens das cavernas soubessem como seria nosso país, jamais teriam saído lá do fundo. A coisa está preta, meu camaradinha. E a luz no fim do túnel pode ser um incêndio. Ou ilusão de ótica.
Se você acreditar no autor e na história, essa é a conclusão desanimadora que fica da leitura de uma ficção política lançada recentemente pelo mineiro Ramiro Batista, influenciado pela literatura norte-americana, que nesse gênero é abundante.
Os ianques adoram conspirações políticas e até hoje não chegaram a um acordo sobre o assassinato de John Kennedy.
Já o nosso Ramiro, por viver em país mais selvagem que os Estados Unidos da América, juntou farto material e teceu um retrato arrasador da sociedade brasileira.
"O Dossiê Rubicão", com o subtítulo "Quando a morte assume o poder", é uma radiografia, em 505 páginas, dos nossos maus costumes na política, nos negócios e na imprensa. Mas não esqueça: é tudo ficção.
Habituados a desconfiar de que nos bastidores da política e da economia há sempre mil negociatas inconfessáveis, os jornalistas - que compõem o núcleo central do romance - revelam-se tão corrompidos quanto os demais atores desse drama.
São bêbados, dissimulados e gananciosos, que mal ocultam suas frustrações e impiedades.
A ficção de Ramiro Batista não se limita ao período que vai dos estertores do regime militar até a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral: a deterioração da ética na sociedade brasileira, que o autor castiga com a chibata de um Corregedor, começa bem antes e irá penetrar pela Nova República adentro.
Nesse Titanic simbólico, ninguém se salva: empresários, políticos e jornalistas, civis e militares, homens e mulheres, oposição e governo, traficantes e policiais, jovens e velhos.
Vaidosos, egocêntricos e capazes de trocar a alma por migalhas de fama e poder, mulheres fáceis, milhões de dólares ou cerveja gelada e carreiras de pó, somos todos cúmplices do naufrágio.
Não há inocência possível, parece dizer o autor, que não perdoa sequer o silencio dos mortos: viajam juntos, no mesmo barco, Tancredo e Brizola, Franco Montoro e Ulysses, ACM e Délio Jardim de Matos, João Figueiredo e Golbery, editores e repórteres, o empresário que se mata e a jovem fotógrafa viciada em drogas.
(A certa altura, antes da página 100 e embora nem participe da trama, nosso Darcy Ribeiro ganha a qualificação de "lunático". Por tentar resistir ao golpe militar, por ser intelectual, por haver construído o Sambódromo, no Rio, ou por inventar a Universidade de Brasília? Não se sabe, mas dizem que a loucura é dom divino).
Nem que seja para refrescar a memória dos fatos históricos, vale a pena ler e discutir "O Dossiê Rubicão", que nasceu de um trabalho de pesquisa.
É pena que o autor fale como divindade do Olimpo e cometa o pecado de horizontalizar a culpa.
E, se todos os personagens são iguais, o espetáculo vira um saco e a única saída é o suicídio (acontecem dois).
Até por esperteza, deveria poupar alguém.
Mas Ramiro não quis ser esperto.
Já o abuso de adjetivos, sobretudo ao descrever emoções, é tema para críticos, que acham piolhos na cabeça dos heróis.
E nesse livro não há heróis.
Leiam e se defendam.
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