Paulo1584 22/08/2021Muitas vidas de um falecidoÉ impossível não se questionar como foi possível que um sujeito como Pirandello tenha se envolvido com o fascismo...
Feito essa ressalva, um detalhe político importante, pois mesmo depois disso ele foi laureado com o prêmio Nobel (1934), posso falar especificamente desta obra-prima que é "O falecido Mattia Pascal".
Um defunto-autor, como o querido Brás Cubas? É o que nos perguntamos quando juntamos o título com a narrativa em primeira pessoa. No entanto, a personagem narradora do romance de Pirandello não morreu de fato.
No que poderíamos chamar de uma primeira parte, acompanhamos o cotidiano desse sujeito chamado Mattia Pascal e que não dá muito certo em muitos sentidos. A relação com a família, com o trabalho, com as pessoas em geral. Obra do acaso, ele é dado como morto e resolve aproveitar a situação para se tornar outra pessoa, o Adriano Meis... Numa "terceira parte" vemos o desfecho do que esse fingimento gerou em Mattia.
É uma obra sobre identidade. Permite pensarmos os limites do eu, ou dos eu's, num sentido muito específico: somos múltiplos, pois estamos sempre em mudança, mas podemos viver como alguém que não somos. A liberdade extrema que se apresenta diante do nosso protagonista acaba se tornando um fardo.
Pirandello explora muitas faces da humanidade, essa coisa que não é muito verossimilhante mesmo.
Foi uma leitura vagarosa e muito marcante para mim!