Gabs 18/02/2018Uma grande obra de uma grande escritoraEsse foi meu primeiro contato com a escritora, da qual acredito que os trabalhos mais marcantes sejam os poemas. Tu não te moves de ti é um livro em prosa, mas a linguagem é tão bem explorada, que eu diria que é mais difícil de ler e interpretar do que um poema. Em fluxo de consciência eu já havia lido Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar (que citei no post das 7 melhores leituras de 2017), mas Tu não te moves de ti é o famigerado discurso indireto livre, totalmente mais difícil de ler e que exigia de mim que eu lesse a mesma página algumas vezes, para tentar extrair o máximo do texto. Hilda Hilst não é alguém que você consegue ler meio que distraída, é uma autora que vai exigir toda a sua atenção e nem assim você vai conseguir extrair tudo (e acho que isso é impossível mesmo). Certamente foi a leitura mais desafiadora que eu já fiz, mas posso dizer que valeu a pena e que foi um bom primeiro contato com Hilda Hilst.
O livro é dividido em três partes: Tadeu (da razão), Matamoros (da fantasia) e Axelrod (da proporção). Na primeira parte, Tadeu é um executivo bem-sucedido de meia idade, que está infeliz com o casamento e com a vida que leva, de um modo geral. Ele na verdade gosta de literatura e se arrisca a escrever um pouco, mas é constantemente podado pela sua esposa, que quer que ele continue sendo um executivo de sucesso, para que ela mantenha sua boa vida. Tadeu passa boa parte do livro em um devaneio, em que ele entra em um universo que me pareceu um asilo, mas acho que isso vai da interpretação de cada um. Nesse universo, ele entra em contato com algumas pessoas, dentre elas Maria Matamoros, que é a narradora da segunda parte do livro.
Em Matamoros (da fantasia), a protagonista, desde criança, sente um imenso prazer em tocar e ser tocada (sim, Hilda Hilst escreve muitos textos obscenos). Em um dado momento, ela conhece um rapaz, que passa a chamar de Meu, e o leva para a casa dela. Tudo caminha bem, até que ela passa a desconfiar de que ela está sendo traída pela própria mãe.
Em Axelrod (da proporção), o protagonista é um professor de história, que, durante uma viagem de trem para a casa de seus pais – o mesmo local onde viviam Maria Matamoros e sua mãe –, lembra constantemente da infância e de suas viagens de trem com o pai. É dessa parte do livro que surge o título do livro “Tu não te moves de ti”, querendo dizer que, não importa quão longe de casa estejamos, nossa essência sempre estará conosco.
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https://alemdaquartacapa.wordpress.com/2018/02/14/tu-nao-te-moves-de-ti-hilda-hilst/