morganarosana 14/12/2012José T. Pers é um novo autor brasileiro, de classe média, vindo de Belo Horizonte e me parece que é a cidade sede de quase todos os seis contos presentes no livro.
A sinopse do livro no skoob diz o seguinte:
Seis contos de mistério e suspense: em três o protagonista é o amoral Coriolano. Nos outros três há situações de mistério e suspense fáceis de encontrar no cotidiano brasileiro.
Os seis contos são interessantes, bem escritos, e eu até curti dois deles razoavelmente: Vaso de Violetas e A enchente. Mas mesmo os dois tem problemas com a fluência do enredo. Pouco vejo também a coisa do mistério e do suspense. Mas creio que para justificar cada um destes itens, tenho que ir falando dos contos um a um.
Apolo e Dionísio - o primeiro conto, e o que dá nome ao livro. E tenho que dizer, este é o conto mais frágil do livro. Começa com o observador-personagem Coriolano - que aparecerá em outros dois contos - ouvindo a conversa de um grupo em um bar. Um dos participantes da conversa, provavelmente um professor de filosofia, como Coriolano deduz, começa a falar de sua teoria que alguns países são Apolo e outros possuem características dionisíacas.
Até aí tudo bem, parece que o conto vai ficar nesta discussão filosófica nieztchiana entre apolíneo e dionisíaco. Só que a questão não se desenvolve, e no meio do conto acontece um assalto. O professor, tentando se exibir pra bonitona esnobe que estava sentada em sua mesa, reage e acaba morrendo burramente. No fim, este Coriolano descobre que o assalto foi armado pelo próprio professor pra que ele pudesse se passar por herói. Mas os ladrões contratados foram mais ambiciosos e tudo terminou mal. O conto termina mais ou menos assim.
O vaso de violetas - como sempre algo se salva em tudo, este é um dos melhores contos do livro. Irene moça simples, vive com a mãe em um pequeno apartamento alugado. Só que as duas recebem uma notificação de despejo. Ela trabalha de vendedora, ganha pouco, até conseguirem achar um apartamento pra alugar tão barato quanto o que moravam, elas teriam que viver de favor com parentes.
Desesperada com a situação, ela resolve conversar com o dono da imobiliária. O dono, é claro, tem segundas intenções com a garota e convida-a para sair.
No dia do encontro, ela vê o dono da imobiliária conversando no portão com outro moço que ela costumava observar de sua janela. Ela reflete sobre o que vai fazer, e até mesmo sobre até deixaria o cara chegar pra conseguir mais tempo no apartamento. Até que esbarra em um vaso de violetas. Ela consegue pegá-lo a tempo, mas e se ela deixasse cair na cabeça de seu cobrador? Quem lembraria da ordem de despejo? É o que ela faz. Mas durante toda a noite a culpo a corrói, e ela acaba ficando desesperada em ser desmascarada.
Só que esta situação também não se desenvolve muito bem, e o autor que podia ter uma coisa nas mãos não aproveita. Dá muito de cara o final.
Salvei sua vida - outro conto que achei bem confuso. Uma moça é 'salva' por um cara no ônibus, e ele começa a esbarrar com ela por toda parte. Ela começa a refletir se o cara não é o assassino de mulheres procurado pela polícia. No meio destas divagações da moça, há ainda o relato do amor platônico dela por um colega de turma/professor, que não fica bem explicado. Acho que este é o conto mais confuso de todo o livro, e ao mesmo tempo, o mais previsível.
O Reencontro - voltamos ao personagem Coriolano. Que aqui tem sua psiquê mais desenvolvida, e podemos perceber neste, o que ainda não podíamos ter notado no primeiro conto. Coriolano não é flor que se cheire. Aqui ele reencontra uma antiga namorada, que agora é noiva de um amigo seu. Os dois, farinha do mesmo saco, se conheceram a um tempo atrás e passaram noites regadas a whisky e cocaína. Até que fonte secou, e Coriolano abandonou a garota num quarto de hotel, sem lenço nem documento, levando o resto do dinheiro que ela tinha e fugindo com uma coroa.
Só que anos depois ele ainda crê que a garota ainda está na dele, e cogita a possibilidade deles serem amantes. Só que le acaba encrencado no final.
Proposta de serviço - continuamos com Coriolano, e neste conto vemos que ele é capaz de tudo por dinheiro. Até mesmo de cometer homicídio.
A enchente - este é o conto que mais consigo enxergar algo de nacional. Não sei se é porque ele se passa no interior de Minas, e trata de um assunto bem comum as cidades pequenas. O caso do bonitão que seduz todas e distribui galhos a vontade pelas cabeças dos homens casados.
Só que o conto é um dos mais confusos do livro. Começa com uma menina, Terezinha. Depois introduz o conquistador, Quim Portuga, e sua fama pela cidade. Depois fala de um casal de recém-casados, em que mulher e marido vão trabalhar por português e o marido fica receoso de ser corneado. Depois começa a descrever interminavelmente os casos amorosos dos cara. Daí volta pra Terezinha, sua paixonite aguda e mal correspondida pelo cara.
Até que acontece a enchente, aquele rebuliço todo na cidade, e depois que a tempestade passa e a água é escoada. O corpo do Don Juan é encontrado morto a facadas. Há a descrição do interrogatório, pegam um cara. Que você sabe, não pe o verdadeiro assassino.
No fim tudo é revelado, mas o fim é frágil e mal explicado.
Acho que como a dona do livro disse em sua resenha, o autor pecou em não descrever melhor lugares e situações. Por isso algumas coisas ficam um tanto perdidas muitas vezes.
Apesar de tudo isto, o livro é pequeno e de fácil leitura. Você lê em uma sentada. Achei um bom começo para o autor mesmo assim.
resenha originalmente publicada em:http://estranhomundinhoinsano.blogspot.com.br