Valentyne.Strozzia 09/04/2024
O Morro dos Ventos Uivantes
Procrastinei muito pra escrever a resenha sobre esse porque eu sinto que me falta sensibilidade pra falar sobre esse livro, no sentido de que talvez eu seja limitada pra entender de fatos as nuances desse livro.
Eu peguei esse livro sem saber nada sobre ele além de que se tratava de um romance (nunca tinha visto o filme e nem ninguém tinha me contado sobre a história) então eu formulei uma ideia do que ele seria na minha cabeça (algo parecido com outros romances de época que eu já li) e eu não podia estar mais longe do que realmente foi esse livro.
Um dos aspectos que eu mais gostei da história foi a escolha narrativa, a autora faz um trabalho tão bom em te colocar dentro da história que se não fosse pelas menções aqui e ali do Lockwood você esqueceria totalmente dele porque parece que a Nelly está contando aquela grande fofoca pra você e livros com narrados que não são 100% confiáveis pra mim é sempre uma aventura ler porque no final do livro eu me vi tendo muitas das mesmas opiniões da Nelly que eu não sei dizer que se eu as teria se ela não fosse a narradora. Em alguns outros momentos também tem outros pontos de vistas narrativos (consideravelmente mais curtos) mas que são igualmente desconfortáveis e eu adorei essa dinâmica do livro. Outro aspecto que eu gostaria de destacar é o quanto esse livro é hilário, não aquele tipo de engraçado que te faz soltar um arzinho pela boca, eu gargalhei diversas vezes lendo esse livro e isso pra mim é incrível.
Sobre a história em geral, existe muito sofrimento do começo ao fim desse livro, se bem que se pode argumentar que no final do livro existe uma certa felicidade, mas esse livro é muito marcado pelo sofrimento de vários personagens diferentes, sofrimentos de cunho social, sofrimentos por conta de hierarquia, sofrimento por conta de religião e até mesmo sofrimentos psíquicos. Todos os personagens são de alguma forma afetados por alguma forma de sofrimento e a maioria deles é sofredor mas também causador de sofrimento no outro, esse livro não te mostra as "mocinhas" e "mocinhos" de romance que muitas outras obras mostras, os personagens podem ser bons mas eles porém também ser egoístas, cruéis, vingativos, invejosos e covardes.
O romance do Heathcliff e da Catherine que é o tema central do livro é um amor muito forte e intenso mas ao mesmo tempo é mesquinho, obsessivo, possessivo e cruel, mas isso tudo é um reflexo também de como eles foram criados antes e depois da morte dos pais dele, é uma relação que te move a querer torcer por eles pela quantidade de amor visível e pela história dos dois juntos mas que no final (eu pelo menos) não consegui me ver apoiando com o desenvolvimento dos dois. Por uma série de mal-entendidos, situações passadas e por escolhas de vários personagens nasce no interior de Heathcliff o desejo de se vingar de Catherine, do seu marido, da irmã dele, da filha e de todo mundo que tivesse qualquer envolvimento com a família Linton. E todos eles tem seus erros, o que pesa na balança é a quantidade e é uma leitura que me fez questionar em muitos momentos porque o Heathcliff foi se tornando uma pessoa cada vez mais asquerosa mas ao mesmo tempo ele também foi uma das pessoas que foi mais vítima durante a história, então ninguém que é apenas bom e apenas mal (mas chegou um momento da história também que eu larguei a mão do Heathcliff).
Sobre os personagens, Hindley pra mim era um dos piores do começo ao fim ele não teve uma qualidade que o redimisse, Joseph também. Nelly pra mim era uma das personagens mais interessantes porque ela se portava como a que conhecia tudo, muito sábia, aquele tipo de sabedoria de alguém mais de idade, mas a idade dela não era tão maior do que as dos outros personagens mas por conta da sua posição social e a necessidade de trabalhar cedo ela teve que amadurecer muito cedo e criar crianças mesmo sendo ela mesmo uma. Catherine Earnshaw é também muito interessante, ela é descrita como muito bela mas com um gênio muito forte e com o passar dos anos ela entra num sofrimento psíquico tão grande que isso é o que acaba levando a sua morte. Edgar Linton, não tenho muita opinião sobre ele além de sentir um pouco de pena e sentimentos de conflito, ele amava muito a Catherine mas em muitas vezes me questionei se esse amor era tão altruísta ja que ele nunca teve intenção de deixá-la para ir com ela verdadeiramente amava (ele era a opção mais segura mas quem era ele pra decidir isso) mas tirando suas transgressões quando criança ele era um dos personagens mais gentis e foi um excelente pai também. Isabella Linton, ingênua e é a única palavra que eu tenho pra ela. Linton Heathcliff, insuportável. Catherine Linton, filha de Catherine e Edgar, umas das vítimas de Heathcliff, é uma das personagens que mais amadurece na história e que também mostra mais coragem diante Heathcliff. Hareton Earnshaw, precioso demais, meu personagem preferido, merecia tudo de bom, mesmo sendo limitado por Heathcliff ele ainda cresceu bem (menos tendencioso que isso impossível) e eu gostei muito do final dele com a Catherine (tive que fazer um esforço enorme pra lembrar que era Inglaterra do sec 19 e ignorar o fato deles serem primos). Por fim o Heathcliff, eu não me permito amar ele mas não consigo odiar ele, ele é vilão e herói da própria história sua vida foi trazer sofrimento pros outros e mesmo ele dizendo que aquilo o satisfazia eu duvido muito e ele entregou umas das suplicas mais arrepiantes e bonitas que eu já vi quando ele implorou pra que Catherine o assombrasse depois da morte para que ele pudesse vê-la de novo.
No geral eu me diverti muito quebrando a cabeça com esse livro e com certeza lerei de novo e espero que quando o fizer eu consiga escrever uma resenha melhor.