Criança 44

Criança 44 Tom Rob Smith




Resenhas - Criança 44


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Fran Kotipelto 10/05/2011

"Gone back in time to bless the child"


Recentemente eu havia me deparado com aquele que talvez seja um dos principais problemas enfrentados pelas pessoas que são viciadas em livros e que encontram os mesmos em promoções assombrosas em diversos sites pela internet, "quais livros comprar?" Esse era meu problema, minha dúvida, e dramaticamente falando, minha angústia. Depois de passar aproximadamente uma hora procurando que livro comprar para completar o carrinho e finalmente finalizar a compra, depois de quase desistir, eis que encontro por acaso um certo livro chamado "Criança 44", imediatamente cliquei na obra, afim de ler a sinopse e ver melhor a capa que achei muito linda. Fiquei absolutamente encantada pelo enredo, pela capa, pelo preço e não hesitei, mandei o livro pro carrinho imediatamente e considero essa ação uma das melhores escolhas que fiz na vida, não é exagero, nem um pouco, é a pura realidade.

União Soviética. 1953. A mão de ferro de Stalin nunca esteve tão impiedosa, reforçada pela Segurança do Estado polícia secreta cuja brutalidade não é segredo para ninguém. Em seu governo, o líder soviético faz o povo acreditar que o país está livre de crimes.
Mas quando o corpo de um menino é encontrado nos trilhos de uma ferrovia, Liev Demidov herói de guerra e agente do Estado se surpreende ao saber que a família da vítima está convencida de que a criança fora assassinada. Os superiores do oficial ordenam que ignore a suspeita, e ele é obrigado a obedecer. Mas o agente desconfia de que há algo muito estranho por trás do caso.
De uma hora para outra, Liev coloca em dúvida sua confiança nas ações e políticas do Partido. E agora, arriscando tudo, o agente se vê na obrigação de ir atrás do terrível assassino mesmo sabendo que está prestes a se tornar um inimigo do Estado.

"Criança 44" é um livro brutal, que narra magníficamente a sociedade soviética oprimida por Stalin. A violência,o terror,o desespero a que eram submetidos os cidadãos é vergonhosamente assustador e isso torna impossível que haja alguma tentativa de considerar irrelevante atos tão abomináveis. Um grande exemplo disso é narrado logo no primeiro capítulo da obra, onde Tom Rob Smith narra a fome pavorosa que o governo submeteu aos moradores das fazendas coletivas.

Liev é aquele que pode ser considerado o perfeito soldado soviético, é um idealista que acredita no Estado, no regime e na revolução;e que sempre esteve disposto a cumprir sem questionar todas as ordens que lhe fossem dadas, não se importava em perseguir,prender,torturar e matar,era preciso ser duro com esses párias afinal todas as suas vítimas eram inimigos do sistema e da revolução que ele tanto acreditava,e indubitavelmente eram ameaças à integridade e credibilidade do Estado soviético.

E é movido pela fé inabalável nesse Estado que Liev se descobre "convencendo" um subordinado de que a morte de seu pequeno filho fora um acidente, não um delito. Convencendo-o de que pouco importavam os rumores em torno do acontecido - dando conta, por exemplo, de que o menino fora encontrado nu e com o abdôme dilacerado - pois a palavra do Estado era a lei: em uma sociedade igualitária e fraterna como a soviética, não poderiam existir crimes bárbaros como aquele.

As certezas de Liev, porém, começam a desaparecer sua própria vida se torna alvo do aparelho de repressão soviético, uma máquina muito eficiente quando se tratava de causar terror, dor e morte. Os questionamentos do "cidadão" Liev só aumentam quando o "investigador" Liev é confrontado com outros dois corpos de crianças encontrados nas mesmas condições daquele do filho de seu subordinado. Haveria, então, um assassino à solta? Na União Soviética? Onde todos eram "iguais"? Mas e se tal igualdade, na verdade, não passasse de ilusão?

Tom Rob Smith nos absorve para sua trama com uma habilidade impressionante, e é simplesmente impossível não sentir-se um soviético oprimido e sedento por respostas e justiça, justiça essa que até hoje buscamos,mesmo não estando na União Soviética,mesmo não estando em 1953.E um livro que desperta grandes reflexões, que abre nossos olhos para algo que foi e é real, não deve ser deixado de lado e colocado como opção final de compra em um carrinho de uma livraria online,não deve ser lido por poucos,e nem desacreditado. Ele deve estar sem dúvida alguma na sua estante de favoritos,em suas conversas sobre literatura, política, história, e acima de tudo, em suas conversas sobre a vida.
Erika Rayane 10/05/2011minha estante
O livro deve ser mesmo muito bom. Parabéns pela resenha.Beijos.


Alan Ventura 11/05/2011minha estante
Já vi esse livro em várias livrarias online,li algumas resenhas e comentários sobre a obra,mas nenhuma me empolgou tanto para ler o livro como sua magnífica resenha.


Jow 11/05/2011minha estante
Segue a lista de livros que vc me faz desejar absurdamente!


Luh Costa 15/05/2011minha estante
Belissima resenha.
Há um bom tempo não passo por aqui né?
E logo quando estou dando um tempo sem comprar livros vejo uma resenha dessa e fico com a maior vontade de adquirir o livro -.-'


Roseli Camargo 17/05/2011minha estante
Esse livro é simplesmente fantástico e tem a continuação: O discurso secreto. Ganhei e não vejo a hora de ler.


Esdras Castiliano 28/05/2011minha estante
Eu começei a ler há poucos instantes e resolvi olhar aqui as resenhas para saber um pouco a opinião de outros leitores. Só a sua já basta. =)


Marct 08/07/2011minha estante
Ainda estou no início do livro, mas estou achando que o autor não se deu conta de que a Guerra Fria já acabou. Sem entrar no mérito da trama, as mentiras que ele descreve a respeito da KGB chegam a ser ridículas.


Felipe Lamerck 26/09/2011minha estante
Resenha fantástica , eu havia visto a sinopse do livro já tinha me chamado a atenção , porém após ler sua resenha estou com uma grande vontade de ler o livro !!


Dani 22/03/2012minha estante
Estou impressionada com sua resenha. Parabéns! Fiquei instigada em ler esse livro por seu título, depois sua capa e depois pela sinopse. E finalmente decidi por comprá-lo após ler sua resenha. Obrigada.


Rafael Garcia 21/02/2016minha estante
Olá Fran. Muito legal a sua resenha. Comprei o livro também e vou começar a ler em breve. Parabéns pela resenha!!!


Cristian 11/06/2017minha estante
Excelente resenha!




(lidos só 2021 em diante) 31/01/2023

Rambo mequetrefe?
Rum com força?

Olha. Terminar de ler esse livro do Tom Rob Smith foi sofrido.

Está mais para um Rambo mequetrefe com dramalhão do que para uma história séria e profunda.

Um show de conveniências. São fugas surreais, tiros que não acertam protagonistas, inimigos letais que de repente se tornam estúpidos para o herói sobreviver.

Tem uma tal cena no trem, Jesus amado... Tem uma tal cena dele se escondendo no prédio e depois correndo pra fugir de dezenas de soldados fortemente armados, Jesus amado...

E ainda tenta surpreender com um plot twist que não impacta em nada, pois a construção dele deu mais sono do que interesse.

O contexto do enredo é a única coisa que gera sentimentos, pois tudo se passa na União Soviética pós-Segunda Guerra, e sabemos como era pavoroso viver nisso (exceto se você mesmo fosse um pavor aos outros, sendo membro do governo tirânico). Só que todo resto parece paródia de um filme de ação. Daí nem adianta.

Ruim com força!

(Foi o primeiro livro lido em 2022, não tinha feito resenha, fiz agora pra postar no Instagram @literatura.retumbante aproveitei e coloquei aqui. Aproveita e segue lá ?)
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Isabel 08/09/2010

SENSACIONAL
Não vou fazer mais uma descrição do Criança 44, pois aqui no Skoob já temos ótimas resenhas, enumerando muitíssimo bem os fatos e acontecimentos do livro.

Todavia, não posso deixar de expressar o meu sentimento sobre o livro que considero o melhor que li este ano e que é baseado na história real do primeiro serial killer da antiga URSS.

É impressionante como fiquei envolvida pela história de Liev. Desde a primeira página até a última, fui arrastada para dentro desta história que, em nenhum momento me deu a chance e, para ser sincera, vontade de deixá-la. Interromper a leitura era a maior dificuldade. Como é que eu podia ir dormir e deixar Liev?

Sofri com Liev, amei com Liev e também fui com ele atrás de sua redenção. A medida que Liev abria os olhos, descrevia os abusos da polícia russa (MGB) e se decepcionava com o que ele achava ser a perfeição de governo, eu ficava mais impressionada com sua coragem de deixar todo o conforto, segurança e poder que desfrutada, para ir atrás de sua libertação e de reconquistar, ou melhor, conquistar o amor de sua esposa. Liev não usa de bondade de ideias ou opiniões apreciáveis para mostrar às pessoas a sua mudança e quais são seus objetivos. Se é necessário matar, ele mata. Se é necessário mentir, ele mente. Se é necessário dizer a verdade, mesmo sendo cruel, ele diz.

E Raíssa, como eu a odiei e, mais tarde, como eu a admirei.

Enfim, além se ser um romance sensacional, Criança 44 nos dá uma boa aula de história, narrando fatos, lugares e acontecimentos do governo de Stalin que deixam o leitor completamete estarrecido com o que os homens são capazes de fazer para ter o poder.

Ah! E tem a continuação. O Discurso Secreto é o segundo livro sobre esta maravilhosa história.
Não deixem de ler Criança 44. Eu Recomendo.
Nica 03/10/2010minha estante
Concordo com Leel, realmente muito boa sua resenha.Acabei de lê-lo, adorei


Thiago 13/10/2010minha estante
HUAHUHUA de fato amem


Anna 19/08/2011minha estante
Muito boa mesmo! Voce expressa bem o que sentiu lendo.


Renata CCS 25/10/2013minha estante
Já tive ótimas indicações aqui no Skoob deste livro. Gostei muito de sua resenha.


Robson Ruas 20/05/2016minha estante
Belíssima resenha! Parabéns!




@bookytimes 23/04/2020

Criança 44
Em um estado regido pelo stalinismo, regime marcado pela opressão e perseguição dos opositores de Stalin, líder da antiga União Soviética, uma criança é encontrada morta, com a barriga aberta, nos trilhos de uma ferrovia de Moscou. A família clama por uma explicação a respeito do ocorrido, mas a polícia alega que não passa de um acidente, ?convencendo-os? a aceitar o ocorrido, afinal, assassinatos não existem em um sistema comunista ?perfeito". Neste contexto, o jovem policial Liev, que está cuidando de um outro incidente envolvendo um veterinário acusado de conspiração contra o governo, é chamado para ?encerrar? o caso da criança.
A vida de Liev dá uma reviravolta quando Raíssa, sua esposa, é acusada de traição pelo veterinário capturado, fazendo com que ele seja rebaixado do cargo e obrigado a ir com sua cônjuge para uma cidade fabril chamada Volsk. Lá, Liev depara-se novamente com um caso de uma criança morta nas mesmas circunstâncias daquela que havia começado a investigar em Moscow e não vai descansar até encontrar o assassino.
O bacana deste livro é que ele não só é cheio de reviravoltas, ação e suspense ,mas também porque é baseado na história real de Andrei Chikatilo, um dos mais conhecidos e brutais serial killers do século XX, que atuou na União Soviética entre 1978 e 1990 deixando 52 vítimas confirmadas, grande parte delas crianças.
Trecho do Livro: "?Toda criança aprendia na escola que assassinato, roubo e estupro eram sintomas de uma sociedade capitalista e a atuação da milícia foi criada a partir desses princípios. Não havia motivo para roubar, nem violência entre os cidadãos, pois todos eram iguais. Não era preciso polícia num Estado comunista.? Curtiu? Segue meu insta @bookytimes
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Priscila 11/06/2023

Acho que 80% do livro é sobre a dificuldade de investigar/resolver um crime na Rússia Stalinista, mas valeu a pena cada página. Um livro que queria ler há muito tempo, não me decepcionou.
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Sandra 24/07/2023

Criança 44
Criança 44, é um suspense de tirar o folego !
Personagens complexos e instigantes, que fazem com que a todo momento você se coloque no lugar deles.
Liev, um agente da polícia fica intrigado ao saber de um assassinato e ver que o governo quer encobrir o caso, como se fosse um incidente. Ele então percebe outros assassinatos semelhantes a este, o que o choca ainda mais e o impulsiona a seguir pistas e ir atrás do assassino a qualquer custo, mesmo que para isso, ele tenha que virar inimigo do estado e se tornar procurado em toda a Rússia..
O livro tem como plano de fundo a Rússia Stalinista, relatando todo a dificuldade, horror e humilhação ao qual o povo foi infringido.
Um período onde para sobreviver era preciso submissão e devoção total ao governo e suas causas, onde nada e nem ninguém são o que parecem ser.

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Antunes 08/03/2024

Combater, subverter ou enfraquecer a URSS
Tenho esse livro a bastante tempo (tanto que comprei as continuações) mas sabe-se lá Deus porque, eu estava empurrando a leitura dele!
Pois, finalmente sanei essa falha ao encará-lo e posso dizer que tornou-se uma das melhores de 2024.
Com uma trama envolvente, misturando fatos verídicos com ficção, Tom Rob Smith nos leva para Rússia de Stalin, acompanhando a trajetória do personagem LIEV DEMIDOV, um agente da MGB que acaba esbarrando em uma investigação intrincada e que vai mexer com tudo o que ele acredita.
É impressionante como até hoje, há pessoas que defendem esse regime nefasto que e que priva as pessoas da liberdade e subvertem o pensamento humano.

Vamos ao livro:
Criança 44 traça um paralelo interessantíssimo com o assassino em série real, chamado de açougueiro de Rostov... foi o primeiro serial-killer conhecido da Rússia no século XX.
Na Rússia de Stalin, o regime faz o povo acreditar que crimes simplesmente não existem. Mas quando o corpo de um menino é encontrado nos trilhos de uma ferrovia, Liev - herói de guerra e agente do Estado - se surpreende ao saber que a família da vítima tem a certeza de que a criança fora assassinada. Os superiores do oficial ordenam que ignore a suspeita, e ele é obrigado a obedecer. Mas o agente desconfia de que há algo muito estranho por trás do caso.

Além de Liev temos sua esposa, Raíssa que torna-se uma personagem feminina interessantíssima e extremamente sagaz em diversos momentos assumindo o protagonismo da história e mostrando o quanto Liev estava errado ao crer no poder do Estado sobre a população!

Enfim... ????? com louvor!!!!
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Evy 15/02/2014

Emocionante!
Logo que esse livro foi lançado eu soube que iria gostar dele. A capa, o título, o tema. Era o primeiro livro do autor Tom Rob Smith e que estréia maravilhosa no mundo da literatura. Adorei a narrativa do autor e achei fascinante a maneira como ele foi levando a história de forma que de uma hora pra outra você se vê tão envolvido com os personagens que passa a sentir suas dores, suas dificuldades e seus desesperos, apesar de todo o contexto hediondo.

A História se passa na União Soviética de 1953, quando a mão de ferro de Stalin esteve mais impiedosa, apoiada pela polícia secreta do Estado que mantinha o regime com crueldade e brutalidade que as palavras de Smith nos fizeram sentir na pele. Nesse contexto, o corpo de um menino é encontrado sobre os trilhos de uma ferrrovia. O agente Liev Demidov, encarregado de forçar a família a acreditar que foi um acidente, se comove e começa a suspeitar que há algo de errado. Então se desenrolam duas histórias: a particular de Liev e sua esposa que, particularmente eu achei fantástica pelo drama envolvido, e a busca incessante do agente pela verdade por trás do terrível crime.

Smith narra de forma fantástica a sociedade soviética da época, oprimida, devastada, passando fome e sendo agredida física e psicologicamente por um sistema sem compaixão e piedade. É assustador. Assim como é assustador você se pegar apaixonada pelo personagem magnífico e extremamente bem trabalho que é Liev, considerando que ele é um soldado soviético, idealista e que acredita fielmente no Estado a ponto de não questionar ordens e perseguir, torturar e até matar se fosse preciso.

Enquanto o Estado tenta manter uma fachada de sociedade feliz e igualitária, onde crimes brutais como o do menino nos trilhos jamais poderia acontecer, Liev começa a se questionar e Smith nos apresenta a relação dele com Raíssa, sua esposa. É fascinante como o autor consegue fazer com que o mundo pessoal de Liev e Raíssa reflitam o contexto histórico da época. Até certo ponto do livro a relação é fria e superficial, tanto que você nem mesmo acredita que algo sairá dali. No entanto, com uma citação apaixonada de Liev, o casal se torna tão envolvente que no momento em que Liev tem de decidir entre entregar sua esposa por lealdade ao Estado ou ir preso, deixando seus pais sem casa e alento, você vive com ele esse momento desesperador.

A busca de Liev pela verdade, suas suspeitas e crescente desconfiança no Estado só torna tudo ainda mais cativante e surpreendente e nos encaminha para um final brilhante e extremamente criativo.

Leitura recomendadíssima!!

site: http://lyani.wordpress.com/2014/02/16/resenha-crianca-44/
Fe Sartori 13/07/2010minha estante
Eu tive que comprar esse livro depois desse comentário,
Parece realmente fascinante!


Roseli Camargo 06/10/2010minha estante
Eu tbm amei esse livro.


Dri Ornellas 20/10/2010minha estante
Achei muito interessante isso que o autor faz: nos faz acabar gostando de um homem que, no fim da contas, não é mais do que um assassino. É a prova que o mundo é cinza (e não preto-no-branco).


Nica 21/10/2010minha estante
Muito boa sua resenha, adorei. O livro é realmente muito bom.




A Leitora Compulsiva 25/07/2023

Denso, pesado e baseado em fatos reais
Nunca li um livro tão difícil de digerir. E já começo a resenha com avisos importantes.

ESTE LIVRO CONTÉM:

?? Canibalismo
?? Assassinato de Crianças
?? Tortura
?? Pedofilia
?? Tentativa de Estupro
?? Violência Explícita
?? Cenas de Sangue

Então, se você caiu de paraquedas na resenha e estiver querendo dar uma chance ao livro, leia preparado/a. MUITO preparado/a.

Mas agora vamos falar do porquê esse livro precisa ser lido por todos, e por que merece 5 estrelas.

O CONTEXTO DA ERA STALIN

Pra ler esse livro, precisamos voltar ao ano 1922, lá na Rússia. Nesse ano, estava sendo elegido o maior ASSASSINO da história russa que a gente conheceu: Josef Stalin.

E pra quem pulava aula de história, não tem problema, vamos relembrar: Stalin foi um ditador que adorava ler o livro do Karl Marx.

Ele decidiu pôr em prática tudo que o Marx disse na Rússia inteira. Mas obviamente: ele fez tudo errado.

Marx defende em seu livro que para um governo ser perfeito, ele não pode ter bens privados: todas as pessoas precisam dividir tudo que tiverem de forma igual entre todos. Esse seria o comunismo, em sua essência. Mas Stalin interpretou essa frase mais como: "Bora fechar o país, vou confiscar a comida de todos, fazer as pessoas me adorarem como um deus e matar todo mundo que não concordar".

Foi também na época do Stalin que surgiram os Gulags: prisões e campos de concentração onde as pessoas que não concordavam com o governo eram enviadas para morrer. E durante essa mesma época surgiu o escândalo do Holodomor: uma grande fome que devastou a Ucrânia inteira e culminou em centenas de mortes. Como mencionei anteriormente, Stalin confiscava o alimento dessas pessoas para o governo distribuir da forma que quisesse. E elas não podiam protestar contra isso porque seriam consideradas inimigas do Estado e morreriam.

A paranóia do Stalin foi tão grande com esse negócio de "inimigos do Estado" que ele criou um partido para perseguir pessoas aleatórias. Mesmo sem provas, se alguém te achasse minimamente suspeito você era morto, ou mandado para o Gulag ou era exilado pra fora do país.

Foi uma época de total histeria: ninguém podia confiar em ninguém. E todos deveriam adorar o Stalin, senão morriam.

Agora que você já sabe mais ou menos como foi essa época terrível, já podemos voltar a nos concentrar na história do livro.

RESUMO DE CRIANÇA 44

As primeiras páginas desse livro são uma ode à náusea. Já começamos com a descrição de uma mulher pobre roendo cascas de uma cadeira pra se alimentar. Como se não bastasse, ela também tenta alimentar o gato dela ao mesmo tempo que o protege dos vizinhos.

O motivo da proteção: não existem mais animais nessa aldeia. Todos os que existiam foram devorados pelas famílias, consumidas pela pobreza extrema e a fome severa.

Percebendo que a comida acabou e que o destino dela é a morte, ela solta o gato de noite para a liberdade, enquanto se deita no chão para morrer.

É nesse cenário desolador que somos apresentados a dois irmãos pequenos: Pável e Andrei.

Pável vê o gato pela primeira vez em séculos. Finalmente teriam comida aquela noite. Não precisariam comer ossinhos num pote enlameado.

Feliz com a descoberta, Pável conta para sua mãe e decide ir atrás do gato. A mãe permite, mas apenas sob uma condição: que ele leve o irmão pequeno junto.

Pável não gosta da ideia. O irmão mais atrapalha do que ajuda. Pequeno demais, desorientado demais. Mesmo assim, ele decide levar o irmão consigo. É isso, ou passar outro dia com fome.

Os dois irmãos saem pela floresta à busca do gato, então. Quando o encontram, é preciso montar uma armadilha. Andrei ajuda no que pode: sempre teve admiração ao próprio irmão, por ser um ótimo caçador e sonha ser como ele. É apenas uma pena que não consegue enxergar de longe. Tem miopia.

Isso não impede os irmãos de conseguirem pegar o gato, depois de um esforço considerável.

O único problema é que após pegar o gato, Pável se separa do irmão menor. E justamente quando está bolando uma forma de trazer o gato para casa sem levantar suspeitas dos vizinhos, um homem surge e o acerta na cabeça.

Após essa cena, não retornamos mais a ver o garoto. Ele foi levado sabe-se lá onde e o pequeno Andrei vai voltar não apenas sem o gato, mas sem o irmão que tanto adorava também.

DE PÁVEL, PARA LIEV

A partir desse ponto, a história muda de direção, nos apresentando outro personagem principal que se chama Liev.

Liev é um agente do governo de Stalin, seu único objetivo é prender todos os suspeitos de perturbar a ordem do Estado.

Normalmente, ele costuma amar esse trabalho. Prende os criminosos com urgência, e faz o que é preciso para manter seu alto cargo lá dentro.

Mas tudo muda quando ele prende um homem chamado Anatoli. Sua fé no governo é abalada, porque Liev tem certeza de que o homem que está prendendo é inocente e será cruelmente morto mesmo sem provas reais. Mesmo assim, ele não pode fazer nada. Se soltar o prisioneiro, será preso por desacato ao governo. Se disser aos seus colegas de trabalho que o homem que prenderam talvez seja inocente, dará a entender que o governo falhou, e o governo em hipótese nenhuma pode ser falho.

Liev não tem escolha e Anatoli é morto. Mas não pouco depois disso, Liev se depara ainda com outro problema: Vassíli. Seu colega de equipe desconfia dele. Quer a sua posição. E fará de tudo para ele falhar.

Não bastasse sua posição estar em perigo, Liev também descobre que há um assassino à solta matando crianças. No governo de Stalin, ele sabe bem: não existem assassinatos. Nem mesmo a palavra assassinato pode sequer ser pronunciada. Ele não pode contar a ninguém, mas também não pode deixar que esse assassino continue fazendo vítimas uma atrás da outra sem ninguém perceber.

Liev precisará tomar uma decisão muito séria e sabe que sua vida está em risco, dependendo do que ele decidir.

O que ele vai decidir? Não esperem que eu vá contar. Vocês precisarão descobrir sozinhos.

ESSE LIVRO MERECE MAIS DE 5 ESTRELAS

Verdade seja dita: demorei mais que o esperado para terminar esse livro.

E não é que não tenha gostado. O livro se tornou um dos meus favoritos assim que finalizei. O problema mesmo era que eu não estava conseguindo conciliar minha rotina estressante no telemarketing com a leitura desse livro.

Mas agora que consegui finalizar, só tenho 3 letras a expressar: U-A-U.

Durante toda a leitura eu me senti como se estivesse em constante perseguição. É incrível como o livro começa tranquilo e vai acelerando até que você percebe estar no centro de um furacão onde tudo dá muito errado e só tem 1% de chance de você sair dessa.

Mas também é um livro que divide muito quem está lendo. O Liev é o tipo de personagem para se gostar com cautela. Eu iniciei o livro apostando todas as minhas fichas nele, me decepcionei a meio e ele reconquistou minha confiança já perto do final ? mas uma confiança muito abalada, dado que aquilo que ele fez com a Raíssa pra mim foi imperdoável.

E qual não foi minha surpresa ? mais uma ? ao descobrir que um dos personagens leva o nome de um autor de vários crimes contra mulheres e crianças lá na Rússia, justamente durante a Era Stalin? Mais um ponto para se prestar atenção: é um livro cheio de referências que se baseiam na vida real.

São poucos os autores que conseguem costurar fatos reais em uma narrativa ficcional de forma a favorecer tanto a história original quanto a fictícia, mas o Tom conseguiu construir algo belo aqui. É quase uma biografia ficcional do período da Era Stalin, tão fiel aos fatos que se tornou uma obra de arte ao meu ver.

E depois de todas essas explicações e referências, é indispensável a leitura desse material. Não somente vai te esclarecer como funcionava a Era Stalin como também vai explicar muito sobre a atual guerra da Rússia contra a Ucrânia, se prestarmos a atenção devida.

Sem mais: 5 estrelas sem dúvidas.

?? Vale dizer que esse livro faz parte uma trilogia. Começa por Criança 44, depois vem com Discurso Secreto e finaliza em Agente 6. A quem não curte tanto trilogias, deixo aí o aviso.
Caio 26/07/2023minha estante
Bela resenha. ( só pra variar um pouco)


A Leitora Compulsiva 26/07/2023minha estante
Essa resenha me custou uma tarde inteira, você nem imagina KKKKKK.

Obrigada Caio ?


Caio 26/07/2023minha estante
Valeu a pena. Ficou muito boa. Parabéns!


A Leitora Compulsiva 27/07/2023minha estante
????


LuciAlen 21/09/2023minha estante
Que resenha é essa? Amei. Estou no início da leitura, precisava disso.


A Leitora Compulsiva 21/09/2023minha estante
Luci você vai amar essa leitura; vai abranger coisas que você não sabia que precisava ler, até ler.

Liev e Raíssa te mandam um abraço (ou aceno). ????




Simone de Cássia 02/06/2021

Livro fantástico! E pensar que "passei por ele" várias vezes sem sequer dar uma olhada... nem um flertezinho... rs rs  O assunto ligado à URSS  nunca foi meu forte, e talvez por isso eu tive tanta  resistência. Aí resolvi arriscar e... amei!! Ele prende a gente por todos os lados: personagens carismáticos, trama bem construída que "fecha" direitinho no final, o fato de ser baseado na história real do maior serial killer soviético e a visão que nos dá do que existia (existia?) por trás da cortina de ferro. Muito bem escrito, fantástico! É do tipo que me fez feliz só de pensar que tava  lá, me esperando...puro chocolate com coca gelada!
Riva 02/06/2021minha estante
Chocolate com coca gelada é bom demais!!!!!!


Fabricio268 02/06/2021minha estante
Chocolate com coca gelada!! ??. Misericórdia. Brincadeiras a parte, esse livro é bom demais. Leiam os outros dois da série. Excelentes.




Dri Ornellas 15/10/2010

Na contra capa do livro está escrito: "em seu romance de estréia Tom Rob Smith leva o leitor à opressora Rússia de Stalin, marcada pela mão forte do Estado. Quando o corpo de um menino é encontrado sobre os trilhos de uma ferrovia, o agente Liev Demidov se surpreende ao saber que a família do garoto está convencida de que houve um assassinato. Os superiores do oficial lhe dão ordens de ignorar o assunto, e ele é obrigado a obedecer. Mas algo lhe diz que as coisas não são tão simples assim. Agora, ele está determinado a encontrar a verdade por trás do terrível crime". Mas não se enganem: Criança 44 é um livro que traz muito mais do que está escrito nessa simples e pequena sinopse. Não caiam no mesmo erro que eu cometi: demorar tanto tempo para ler esse livro cruel e sensível, parece antagônico e impossível, mas não é.

Criança 44, de Tom Rob Smith conta a história de Liev Demidov, um agente da MGB (qualquer semelhança com a KGB é mera coincidência) nos tempos do pós-guerra e Guerra Fria, onde cada pessoa era um espião em potencial que poderia colocar o Estado em alerta, pronto para fazer sua prisão, existindo ou não provas de sua culpa. O que se falava, o que se olhava, como se falava, como se olhava, como andavam... tudo era observado e qualquer movimento diferente do normal era considerado uma possível traição ao Estado. E uma suspeita era o bastante para uma pessoa ser enviada para campos de trabalhos forçados ou morta. Não havia necessidade de provas, ninguém tinha o benefício da dúvida.

Nesse ambiente, Liev era um agente que acreditava verdadeiramente no Estado. As prisões injustas que efetuava, as torturas, as investigações, nada disso era feito por crueldade, mas sim porque ele acreditava que estava defendendo o Estado, garantindo a permanência do poder que representava sua ideologia. Depois de anos, Liev dispensa o benefício da dúvida para um veterinário acusado de espionagem. Isso resulta na fuga do acusado. Liev começa se sentir ameaçado por seus próprios colegas: não o respeitam mais, não acatam suas ordens e há um dos subordinados que deseja seu posto. Para acabar com essa situação, Liev se empenha ao máximo para capturar o fugitivo. Consegue.

Antes de capturar o acusado, Liev é designado para um trabalho que considera mais baixo e acredita que é um castigo por deixar o acusado fugir. Um menino é encontrado morto na beira da linha de um trem. Os pais acham que ele foi assassinado, Liev é escalado para mostrar aos pais que isso não é verdade, pois a sociedade daquele tempo não poderia ter assassinatos, isso mancharia a imagem do sistema; como aquele Estado que se dizia perfeito possuia pessoas que eram capazer de cometer frios assassinatos? Não, para qualquer efeito, aquele era um Estado perfeito e produzia pessoas perfeitas. O contrário serviria de argumentos para a sociedade Ocidental criticar a União Soviética e seu sistema.

Liev cumpri suas duas missões: captura o fugitivo e cala a família do menino morto. Mas isso é o marco do começo do declínio de sua vida como agente da MGB. Liev começa a se questionar da veracidade do Estado, das consequências de seus atos como agente da MGB. Além disso, descobre que outras crianças foram mortas da mesma forma que o menino de quem precisou calar a família: todos nus, com o estômago aberto, com lascas de árvore e um barbante amarrado no tornolezo. Mas o que levaria uma pessoa a matar por matar? Isso não tinha sentido. Ele matava, mas matava por uma razão, por um motivo, não matava pessoas aleatoriamente. Os assassinatos que ele cometia eram justificados e aceitos pelo Estado. Não se conhecia nenhum caso assim, principalmente de muitas mortes realizadas do mesmo jeito. Mas Liev precisava investigar, achava que aquilo poderia ser obra de uma única pessoa e não poderia deixar o Estado inventar culpados convenientes (um doente mental, um subversivo, um espião - todos suspeitos que eram usados para que o Estado se livrasse do crime) e arquivar o caso. Dessa vez, ele queria a verdade.

Além de fazer uma investigação em segredo, Liev tem que encarar a falta de método da época: como investigar algo que simplesmente não existia oficialmente? Não havia crimes na União Soviética pois isso seria uma prova de ineficácia do comunismo. O Estado preferia mascarar a verdade a tomar alguma providência para acabar com os crimes.

"(...) estava confuso porque os crimes aparentemente não tinham motivo. Não que o assassinato de crianças fosse inimaginável. Mas qual a vantagem? Qual a intenção? Não havia nenhuma necessidade oficial de matar aquelas crianças, nenhuma idéia de servir a um bem maior, nenhum lucro material. Era isso que ele não entendia."

Em nenhum momento, o livro usa a palavra comunismo, mas sabemos qual o Estado do qual tanto se fala. A União Soviética ajudou a ganhar a Segunda Guerra Mundial, mas não era a vítima: sua população sofreu com os inimigos de guerra e depois sofreu com o Estado. Os soldados alemães destruiram muitas aldeias, mas depois, os soldados soviéticos aproveitaram benefícios por serem heróis, como violentar mulheres e destruir famílias. O livro possui um contexto histórico impecável, detalhando minusciosamente o tipo de vida da época, porém é um história contada a partir do ponto de vista interno do personagem principal. Tudo a sua volta passa pelo crivo de suas perspectivas, mas mesmo assim não há a perda de objetividade. Em determinados momentos, a narrativa muda de personagens, deixando o leitor ciente dos sentimentos e percepções de outros personagens importantes à trama.

A relação de Liev com sua esposa é totalmente conflituosa e marcada pelo contexto social em que vivem. Naquela época, não havia como fugir do Estado, absolutamente tudo tinha a ver com política, todos vivam assustados com o que poderia acontecer consigo. E a relação de Liev com Raissa é um produto desse tempo.

Liev era um assassino. Sim, não há outro modo de chamar um agente da MGB. Em nenhum momento do livro é chamado de tal, mas o é. Mas vemos que nada é categórico, inflexível. Liev fazia o que fazia por acreditar que era o certo, quando percebeu que poderia estar enganado, lutou para, dentro daquele Estado sufocante, fazer algo que realmente fosse justo e bom.

"E ao ver o marido de ombros caídos e rosto desanimado, ela conclui que Liev nunca tinha feito nada em que não acreditasse. Era um homem sem nada de cínico ou calculado. (...) Mesmo naquele momento, mesmo depois de tudo o que aconteceu, ele ainda tinha esperança. Ainda queria acreditar em alguma coisa."

Eu simpatizei com o personagem desde o primeiro momento e chego a ficar assustada em como isso é possível. Afinal, de um jeito ou de outro, Liev prejudicou muitas pessoas exercendo sua profissão. Até que ponto isso é justificável? Até que ponto Liev é apenas uma vítima do tempo em que vivia? Definitivamente, eu não tenho essa resposta. Pelo contrário, essas perguntas só me trazem mais dúvidas.

O livro é maravilhoso e se desenrola para um final surpreendente. Apesar do texto ter ficado grande, acreditem, não tem nada das histórias paralelas do livro e não desvenda praticamente nada da história principal. Recomento a leitura para todos. É um livro histórico muito bem ambientado, com uma linguagem acessível sem ser simplória ou descuidada. A narrativa é cheia de ação e a história com muitas reviravoltas e suspense.

Tom Rob Smith é filho de uma sueca e um inglês, nasceu em 1979, em Londres, onde mora até hoje. Criança 44 é seu romance de estréia.

Fatos:
- é baseado na história do Estripador de Rostov, Andrei Chikatilo, o primeiro serial killer da União Soviétiva que matou mais de 52 crianças;
- será adaptado para o cinema por Ridley Scoot;
- faz parte de uma trilogia. O segundo livro foi publicado com o nome de O discurso secreto. De acordo com o autor, O novo mundo poderia ser o título do próximo livro, mas nada está definido.

No blog A menina do fim da rua (http://a-menina-do-fim-da-rua.blogspot.com/2010/10/crianca-44.html)
Evy 15/10/2010minha estante
Nossa!!!
Se superou na resenha Dri! Fiquei até com vergonha da minha superpequenininha... vou pensar em aumentar! rsrsrs
Parabéns!!!
Bjos


Cris Paiva 16/10/2010minha estante
A pergunta que não quer calar: - O que aconteceu com o gato do primeiro paragrafo??? KKkkkk
Amei a resenha! Vc tem talento mesmo menina, eu só faço uns comentariozinhos sobre o livro e olhe lá! Kkkkk


Renata CCS 17/04/2013minha estante
Gostei muito de sua resenha! Fiquei interessada em ler este livro. Vc escreve muito bem!




Lara Mélo 17/01/2022

Uma trilogia trazida pela pandemia
Ganhei esse livro em 2008. Na época, li e fiquei ansiosa pelo filme - pois vi que os direitos tinham sido adquiridos por Ridley Scott - mas depois acabei esquecendo do filme e o livro ficou esquecido na casa dos meus pais.

Até a pandemia. Meu pai leu e resolveu comprar os outros dois da trilogia (O Discurso Secreto e Agente 6). Minha mãe também leu e eu, influenciada pela empolgação dos dois, resolvi reler o 1º antes de ler o 2º e o 3º, porque só lembrava dos nomes dos protagonistas - Liev e Raíssa - e que o livro falava sobre um assassino de crianças em série.

Foi uma experiência de leitura totalmente diferente da primeira vez. Não me recordava o quanto o autor tinha conseguido combinar a ficção com o cenário político da URSS sob o governo de Stálin, como ele construiu um enredo abordando tantos questionamentos morais e políticos a partir das vivências de suas personagens. Através de sua obra, Tom Rob Smith nos mostra como um regime totalitário é capaz de se infiltrar por cada brecha da vida de seus cidadãos, criando mecanismos de controle para manter todos sob rédea curta, seja por medo seja por obediência.

Num contexto em que cada palavra, cada gesto e cada passo é vigiado e interpretado de acordo com as regras do Estado - tenham elas sentido ou não - não há personagens rasos ou fáceis de entender. Todos têm um passado, todos já perderam muito e vivem na iminência de perder mais ou de perder o mais importante: suas vidas.

As privações e sofrimentos enfrentados deixaram sombras na vida de todos e os segredos guardados são tão ou mais importantes para a trama que os próprios fatos. É aquele livro em que é preciso estar atento a cada linha, a cada palavra, pois é nas zonas cinzentas, no subjacente, no sussurro, no escuro, que se encontram as respostas.

Quando cheguei ao final, pensei no livro como um caleidoscópio: a cada leitura, a cada página virada, é possível captar diferentes nuances, reparar em novos aspectos da personalidade, das ações e dos relacionamentos das personagens e até mesmo do desenrolar da história.
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jota 14/06/2013

Crimes soviéticos
As páginas iniciais deste livro são impactantes e nos sentimos transportados para os anos 1930, na Ucrânia, então uma das repúblicas da União Soviética. Anos terríveis, em que se não bastasse o frio implacável, as pessoas também passavam fome e ter como jantar um magro gato podia ser algo maravilhoso.

É assim, caçando um gato que o pequeno Pavel desaparece, para desespero do irmãozinho Andrei e loucura de sua mãe, Oksana. Depois a ação salta para 1953: nos encontramos em Moscou e a União Soviética está sob o domínio do sanguinário ditador Stalin. E essa história (que marca a estreia do escritor Tom Rob Smith) continua nos deixando sem fôlego dado o seu ritmo vertiginoso. Praticamente cada capítulo se encerra com uma surpresa, uma reviravolta, a morte de algum inocente ou nossos heróis em perigo, o casal Liev e Raissa Demidov.

Para quem aprecia a história russa, Criança 44 tem um atrativo a mais além do crime que o agente Liev Demidov investiga: o autor pesquisou vários livros e nos traz um relato cru dos métodos de tortura da ditadura soviética. Que não perdoava ninguém, nem mesmo quando seus agentes se enganavam, pois se alguém estava sendo investigado era porque tinha algum tipo de culpa e então merecia morrer, geralmente com um tiro na nuca. Simples assim.

A certa altura, os superiores de Demidov o incubem de investigar a própria esposa, Raissa, que eles suspeitam ser uma traidora. Aliás, todo mundo era suspeito numa época em que irmão delatava irmão e qualquer deslize de um cidadão soviético era encarado como traição à pátria.

Bem, este é um best-seller por excelência, com (quase) todos os ingredientes que caracterizam o gênero. Mas muito bem escrito e onde os fatos se encadeiam perfeitamente do começo ao fim da história. E mesmo os exageros na ação ou a sorte previsível que acompanha os personagens principais são perfeitamente desculpáveis.

Lido entre 10 e 13/06/2013.
Arsenio Meira 19/06/2013minha estante
Excelente, Jair!
É isso. Como você deixou claro, "Criança 44" vai além da ficção policial.

Mescla um triste período da história, provando que regimes políticos ditatoriais são purulentos, com uma trama narrada em um ritmo estonteante.

Queria dar 4.5 estrelas. Classifiquei como muito bom, mas pode ser visto e encarado como um excelente romance.

Parabéns pela versatilidade e honestidade que você imprime em sua devoção pela Literatura.


jota 19/06/2013minha estante
Arsenio: grato por seu generoso comentário. Também fiquei na dúvida entre dar nota 4 (que seria aquém do valor deste livro, muito empolgante) ou 5 (pelos excessos de todo best-seller), pois não existe 4,6 ou 4,7, que expressariam melhor o meu entusiasmo pelo livro. Que é altamente recomendável para quem aprecia literatura de entretenimento com classe. E com que classe - ou talento - Tom Rob Smith escreveu Criança 44, hein?!


Arsenio Meira 19/06/2013minha estante
Exato, Jair. Tom Rob deu um show de talento.

E o meu comentário resulta de minhas constantes observações e leituras das suas análises.

Eu posso discordar um dia de você - sempre com respeito - mas é inegável a sua classe, honestidade e talento na hora de escrever sobre um livro.

Sua análise é honesta e sabe separar o joio do trigo, na minha opinião.

Valeu!

Ps - O DISCURSO SECRETO (Continuação de Criança 44) é tão bom quanto. Vale a pena.




Claire Scorzi 20/02/2011

O amigo é o inimigo, e o inimigo, um amigo
Excelente a estréia do inglês Tom Rob Smith. Nesta obra de ficção policial ambientada na Rússia stalinista, um agente da polícia soviética investiga a morte de uma criança. Se de início acredita, como o governo que defende, que se trata de um acidente, aos poucos - e através de percalços que beiram a tragédia - acaba por mudar de idéia.
O romance é magistral: a busca de Liev, este 'candidato a herói', pela verdade sobre o crime, começa a tornar-se um renascimento do próprio personagem. Para quem conhece o Novo Testamento, saberá do que estou falando ao chamar Liev, o agente policial soviético, de uma espécie de "Saulo estalinista": profundamente convicto da "verdade" do Estado, vai, aos poucos, tendo seus olhos (políticos) abertos, assim como o Saulo do NT tem abertos os olhos espirituais. Saulo vira Paulo; e Liev se redescobre, numa reavaliação cruel de sua vida - tanto como cidadão como enquanto homem.
Fazendo uso ora sutil, ora explícito, de extensa documentação, Rob Smith usa inclusive recursos dos autores que consultou: em "Criança 44", há destaques de palavras e frases isoladas no decorrer do texto - uma das marcas estilísticas de Soljenítsin, cujo "Arquipélago Gulag" Smith parece ter lido e assimilado com felicidade.
Alguns reparos, em minha opinião: o desenho das personagens é ótimo - Liev, Andrei, Vassíli - mas falho na construção da única figura feminina de destaque, Raíssa. Ela não conseguiu me convencer; falta-lhe verossimilhança, a mesma que o autor conseguiu dar aos outros, incluso aí sua personagem central, o complexo Liev, que sofre uma gradativa e radical metamorfose ao longo da narrativa. Liev é excepcional criação do escritor. Talvez sua dificuldade seja com as personagens femininas, imperfeição de muitos escritores homens, aliás.
Como thriller, como retrato incomum da U.R.S.S. (uma espécie de 'visão intimista', da rotina do país à época), como parábola do renascimento de um homem, "Criança 44" é grande literatura.
Leia prevenido - pois ao longo do romance, o amigo revela-se inimigo, e o inimigo, um amigo. Um retrato do horror do Estado policial.
Dri Ornellas 20/02/2011minha estante
Claire, como sempre, você lança um novo olhar sob o livro!

Concordo sobre Raíssa, eu não conseguia encontrar uma razão para antipatizar com ela, você colocou em palavras o porquê disso. Não que eu tenha não gostado dela, mas como você disse, ela não convence.

Ouvi algumas vezes falarem do livro Arquipélago Gulag, agora fiquei curiosa...


Léia Viana 03/04/2011minha estante
Você está coberta de razão, Rob Smith, não soube construir bem Raíssa. Fiquei impressionada com a sua resenha, fez-me pensar em alguns pontos da trama que eu deixei passar despercebido.




edisik 08/02/2020

Muito bom
Gostei da narrativa, já vou ler os outros dessa trilogia.
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