Adriana 17/07/2012Absolutamente incrível, bem escrito e totalmente encantador. 2083 é um livro do qual eu esperava uma história mediana, legalzinha até, mas nunca uma trama tão brilhante e a qual eu me apegasse tanto. O motivo do meu amor pelo livro? O amor pelos livros que há em cada página.
Desde que li Noite Sem Fim, fiquei maravilhada com obras em que o autor reverencie os livro e o amor aos mesmos! Então, quando vi a perspectiva de um livro em que os livros tivessem sido extintos, não pude deixar de solicitá-lo, ele me chamou!!!
“Simplesmente as pessoas deixaram de ler livros. Houve um tempo em que ainda eles, os livros, eram comprados, mas por puro acaso. Simplesmente porque os meios de comunicação, a mídia, o mundo das aparências prestigiavam quem lia livros e uns poucos leitores ainda precisavam ler. Mas até estes deixaram de existir. E depois para que ter livros se todos já haviam sido ou estavam sendo escaneados e se encontravam disponíveis na Cosmonet, em forma de arquivos digitais? As pessoas entravam na rede, liam um fragmento, uns dois parágrafos e pronto. Logo buscavam outro título e liam outro fragmento. Mas os bons livros tinham de ser lidos por inteiro. Seu mérito não dependia somente das histórias que contavam, mas do lugar das palavras, da ordem das frases e sobretudo do ritmo da história.”
Na trama, o ano é 2083 e as pessoas não leem mais livros de papel. Eles foram substituídos por e-books e digitalizações, mas mesmo assim são pouco procurados pelas pessoas. O narrador do livro é David, um garoto de dezesseis anos que vive com seu pai que ele chama de Pa. Depois da morte de Ma eles sempre conviveram em harmonia, embora não se falassem muito.
Até o dia em que a TV anuncia a descoberta de um local que abrigava centenas de livros, uma coisa raríssima naquele tempo. David ficou curioso com o assunto e Pa lhe contou como era o mundo antes que os livros em papel fossem extintos. Hoje, os exemplares que por ventura tivessem sobrado se desintegrariam em contato com a atmosfera. Por isso, o único exemplar que Pa conservou, de autoria de um ancestral deles, está fechado em uma cápsula inacessível.
“Mas a satisfação que me proporcionavam os bons livros era mais profunda e também muito mais duradoura. Quando as pessoas liam os livros, elas se transformavam em outras pessoas, se sentiam de um modo diferente e eram tomadas por ideias e perguntas que nunca tinham pensado antes. Era como se pudessem estar em vários lugares e viver várias vidas ao mesmo tempo.”
A curiosidade do garoto o leva a pesquisar mais sobre o assunto e sobre a obra de seu parente, e com isso acaba descobrindo as maravilhas de Dom Casmurro, David Copperfield e outros clássicos que ele conseguiu encontrar na Cosmonet em formato digital.
Estimulado com a curiosidade do filho, Pa decide leva-lo ao seu trabalho, que não deixa de ter muito a ver com livros. Ele trabalha na Bibliotravel, uma agência de viagens muito original e que eu daria tudo para visitar. Lá, os clientes podem escolher entre alguns títulos disponíveis e literalmente, viajar nos livro. Através da alta tecnologia do futuro, eles conseguem implantar sensores que permitem as pessoas uma experiência real dentro de suas histórias preferidas, interagindo com os personagens e vivenciando todas as situações.
Enquanto eu lia, impossível não imaginar como seria ter a oportunidade de me transportar para Hogwarts, viver as aventuras de Katniss na arena, conhecer Dimitri Belikov e lutar contra Strigois… Enfim, acho que eu seria a cliente número um dessa agência!
O mais maravilhoso do livro, além de ter a oportunidade de ver os clássicos que tanto conhecemos sob a perspectiva de alguém que nunca soube da existência de livros, é a narrativa simples e direta do autor, que contem uma paixão pelas obras literárias que nos contagia e motiva a continuar lendo pelo resto dos dias. Como um dos personagens bem citou: “Sou um homem de duas obsessões. Uma delas é conseguir ler todos os livros do mundo, antes de morrer. Sei bem que não conseguirei, mas não importa. A outra obsessão é a busca e captura de livros raros. Sempre pensei que, quando alguém pede um livro, é porque precisa, e que esse desejo deve ser satisfeito.”
Esta é outra parte maravilhosa dos livros, as passagens belíssimas! Vocês devem, ter percebido pela quantidade de quotes o quanto eu fique encantada com os diálogos e divagações dos personagens!
Com toda certeza, este é aquele tipo de livro que eu tenho o dever moral de indicar! Para os amantes da leitura, não há obra mais maravilhosa do que aquela em que seu objeto de afeto é reverenciado!
Resenha em http://mundodaleitura.net/?p=3960