Ana Rosa 08/11/2012
Somos moleques. Sempre seremos.
Ser leitor não é - e creio que nunca será - fácil. O fato é que para se portar dignamente como tal, necessita-se, antes, se levar à criança que algum dia existiu; aquela que não tinha arrogância de ignorar e/ou rejeitar qualquer novidade, e que possuía uma audácia incrível de descobrir o mundo, seja através dos sentidos, da imaginação, do senso ou até mesmo, da escola.
Todavia, crescemos com a consciência de que teremos de amadurecer um dia. Menos ou mais, esse dia chega: de uma maneira ou de outra, somos encarados por essa realidade que abala o nosso ego, corrói alguns sonhos e sinaliza um novo caminho a ser seguido. Poucos conseguem sobreviver ilesos a essa Transformação.
E assim foi, no ano de 2008, quando o professor de Língua Portuguesa chegou à sala, incumbindo a missão para todos de ler Roberto Freire para as atividades avaliativas decorrentes daquele período. Não longe disso, comprei-o (o livro) na livraria indicada e, logo na volta para casa, de ônibus, tipicamente, comecei a lê-lo com toda aquela curiosidade que o título deste inspirava e mencionava. "Moleques de rua".
O professor já alertava: "não será uma leitura suave, mas eu sei que algumas ingenuidades aqui devem ser deixadas de lado ou mesmo, se possível, desfeitas". A história conta a vida que a personagem de João Pão levava, além das suas relações (geralmente atípicas, para muitos de nós) que o "bando de João" tinha com as ruas.
A cada página, a cada susto, a cada choque, eu acordava no "realismo de Roberto", do qual ajudou por descobrir-me e descobrir, aliás, o meu verdadeiro carinho, amor por quem não recebe e não tem amor. A busca por ser especial nesse mundo aparentemente guiado pelo "darwinismo social". Estes "meninos" não ficarão esquecidos, se depender de minha memória e história. E é por eles que vou ser o que serei - e o que já sou.