Amanda 25/08/2023Só a desobediência modifica o mundoO que pode ser dito que já não tenha sido repetido inúmeras vezes sobre um dos livros infantojuvenis mais queridos há quatro décadas? É até difícil conhecer alguém que não tenha lido A Droga da Obediência; além disso, em 99% das vezes, os relatos são semelhantes: esse livrinho, obrigatório pela escola, foi o primeiro contato prazeroso com a leitura para esses indivíduos. No meu caso, li também por causa da escola, mas como professora, não aluna. É até incrível que eu não tenha esbarrado com este livro durante minha adolescência, para ser sincera.
A história é muito gostosinha de acompanhar, e aqui lembrando que temos que analisar do ponto de vista do objetivo/público-alvo do livro, porque é natural que seja uma narrativa cheia de clichês e bastante previsível para um adulto. Mas para um jovem aprendendo a gostar de ler... Basta, para mim, ver a reação dos meus alunos, em 2023, de 12 anos: simplesmente encantados, devorando o livro, e sempre relatando: "Eu odiava ler antes de conhecer Pedro Bandeira". E olha que estamos falando de um livro de 1984.
Na narrativa, acompanhamos um grupo de amigos no início da puberdade - os Karas - lutando para desvendar um grande mistério: o sequestro de diversos estudantes de algumas das escolas mais caras de São Paulo. Os personagens são bem desenvolvidos e é muito fácil se apegar a eles durante a leitura, e tem para todos os gostos: o protagonista líder nato, a amiga sensível e descolada, o gênio nerd, o criativo e até o corajoso Chumbinho, mascote da turma.
Além dos personagens e do enredo simples, porém divertidos, a própria linguagem é cativante, fluida, e é possível ler A Droga da Obediência em apenas um dia, "de uma sentada só". E confesso que o Pedro Bandeira soube construir tão bem todos os elementos dessa narrativa que conseguiu inclusive me surpreender com o final.
Creio que todos deveriam poder conhecer este tipo de leitura em algum momento, de preferência na idade adequada (apesar de ser ótimo para todas as idades, é muito cativante para os mais novinhos), para criar essa relação querida com os livros. Infelizmente, muitas escolas empurram conteúdos que não fazem nenhum sentido para os alunos, que não são relevantes, muitas vezes porque o momento não é propício, e acabam afastando ainda mais a criança do mundo literário. Lutemos por mais livros que estreitem esse vínculo e tragam nossos jovens para leituras divertidas, inteligentes e críticas de acordo com a idade deles.