spoiler visualizarLetícia 10/06/2020
Não sei o que eu estava esperando desse livro quando o peguei pra ler. Mas definitivamente, seja lá qual for a expectativa que eu tinha antes de iniciar a leitura, ela foi suprida e ultrapassada.
Hoje eu sou Alice nos apresenta Alice Jamieson narrando sua vida e sua doença. O livro é narrado de forma cronológica, ou seja, ele inicia com Alice criança e avança os anos gradativamente. Ele encerra com Alice com seus 40 anos e uma vida cheia de sofrimento.
O livro é repleto de todos os tipos de gatilhos, e mesmo que eu não me sinta pessoalmente gatilhada com os relatos, foi muito difícil finalizar a leitura. Demorei umas boas três semanas para concluir o livro e não teve nada a ver com a história.
Alice sofre abusos físicos, sexuais e psicológicos desde os seis meses de idade. Os abusos vão desde o pai forçar oral numa criança de 2 anos, o pai forçar sexo anal e vaginal, causando fissuras e idas constantes ao hospital. O pior? Ninguém nunca percebeu. Para todos, inclusive os médicos, Alice era apenas uma garota que vivia tendo várias infecções e fissuras sem motivo algum (?!!?!?!?)
O trauma fez com que Alice criasse outras personalidades dentro de sua cabeça, para que os abusos fossem com essas personalidades, e não pela Alice em si. Ao todo Alice já chegou a ter 15 personalidades consigo, a maioria delas crianças e adolescentes, que foram da época em que ela sofreu os abusos.
Muito bizarro como nosso cérebro funciona. Além do TDI, Alice era anoréxica, alcoólatra e dependente de remédios. Tudo originado pelos abusos do pai.
E mesmo que a própria Alice não se sentisse suicida, uma de suas personalidades, Kato, era. Em um ponto do livro ela diz que teve mais de 500 pontos nos pulsos porque Kato tentava matá-la toda vez que assumia o comando. Também havia Shirley, a personalidade que a fez virar alcoólatra. Além de JJ, um pré adolescente emburrado, e Billy, uma criança fascinada por legos, que provavelmente roubava todos pois eles simplesmente apareciam em sua posse e Alice não fazia ideia de como eles iam parar lá.
Dos 23 anos para a frente, Alice começou o tratamento e vive entrando e saindo de hospitais, seja por surtos psicóticos ou porque alguma das personalidades fez alguma coisa que a colocou em problemas. Depois de um tempo Alice aprende a conviver com essas personalidades e inclusive as perdoa por tentar matá-la tantas vezes, pois são "todos vítimas da mesma coisa e todos tem o mesmo problema, apenas lidam de forma diferente".
Hoje eu sou Alice é um livro bem pesado, com vários tipos diferentes de gatilhos e o que não falta ali é uma boa escrita. Só tirei meia estrela da nota porque ela fica narrando as viagens dela. Eu lá quero saber em que rua você virou, minha filha? Zero importância pra história, pulei sim várias partes das suas viagens.
Ps: ninguém sabe a real identidade da Alice e nem de qualquer personagem, mas tudo narrado ali é real. Só consegui achar uma entrevista da Alice, mas é bem curtinha e a própria entrevistadora diz que não pode nem dizer como Alice é nos trejeitos pois isso poderia identifica-la, e consequentemente, identificar seu pai, o que legalmente ela não pode fazer porque teve processo e todo o mais contra ele. Mas o livro vale a pena, se você puder aguentar tudo de horroroso que acontece nele.