Lucimara B 14/03/2014
"O ritmo nasce de uma ilha sob o mar [...]"
Com uma narrativa de grande fluidez, “A Ilha sob o Mar”, de Isabel Allende, impressiona pelo seu caráter histórico unido com um romance que provoca um turbilhão de sentimentos no leitor. O livro é divido em duas partes: a primeira, ambientada em Saint-Domingue, entre 1770 e 1793 e, a segunda, em Lousiana, compreendendo os anos de 1793 a 1810.
A história é desenvolvida acerca da vida de Zarité, conhecida como Tété, que ainda era uma criança quando fora comprada por Toulouse Valmorain, um francês que herdara uma plantação de açúcar de seu pai. Tété recebera aulas de como deveria se portar como escrava por Violette Boisier, uma "cocotte" que se tornara amiga de Valmorain após passarem por uma fase de desejos e paixões.
Toulouse, que já não sentia mais o desejo que tinha por uma linda moça, chamada Eugenia, que se apaixonara em uma festa e que acabara tendo-a com sua esposa, usou a jovem Tété para saciar suas vontades. Por conta disso, a pequena escrava desenvolveu em seu ventre dois filhos: o primeiro, que foi vendido para Violette e seu marido; e Rosette, que pôde permanecer com Tété, uma vez que Eugenia já estava muito doente e já não percebia mais o que ocorria em sua volta. Rosette criou-se com Maurice, filho que Eugenia trouxe ao mundo antes de ser sucumbida por suas próprias loucuras.
Nessa época, uma grande leva de escravos rebeldes iniciou uma rebelião sangrenta que atingiu toda a área de Saint-Domingue. A fim de preservar sua vida, Valmorain, levando consigo Tété e seus filhos, resolveu tentar sua vida em Lousiana, juntamente com Sancho, irmão de sua falecida esposa.
É nesse contexto que a narrativa se desenvolve, retratando as condições dos escravos nas plantações, além da forma de como eram tratados por seus patrões e pelo resto da sociedade de descendência europeia; todos esses fatores unidos à trajetória de vida de Zarité.
Acerca disso, pode se esperar um romance munido de aflições familiares, tensões políticas e de questões sociais que fazem o leitor refletir, além de permitir uma comparação e análise de passado e presente, como, por exemplo, em relação a questão da cor da pele, que, infelizmente, ainda provoca inúmeros conflitos na sociedade ou, ainda, no preconceito entre religiões, outro ponto que é abordado no livro, mesmo não sendo de maneira tão direta.
Confesso que comecei o livro achando que seria mais uma leitura monótona, contudo, me surpreendeu e certamente está na lista dos meus favoritos.