Laíza
06/06/2021Uma espécie de desolaçãoA capa da edição desse livro é lindíssima. No entanto, acredito que a experiência da leitura seria melhor se a Companhia das letras tivesse trazido encarte ou prefácio antes dos escritos autobiográficos de Patrícia Galvão para que tivéssemos uma dimensão externa do que representou essa mulher para a causa comunista.
São relatos de fatos entre 1910 a 1962.
Desde o início dos escritos, Pagu demonstra uma personalidade de constante insatisfação e busca quando diz: ?Assim, tenho andado farejando toda espécie de ideal?.
Esse encontro, ao longo de toda sua vida, ocorre na luta pela causa operária. Mas, a medida que desenvolve essas atividades no território brasileiro sofre aproveitamentos de sua, as vezes, ingenuidade e outras vezes fanatismo. E, nesse sentido, muitas vezes se utilizam da sua condição de mulher e mãe.
Pagu não consegue simplesmente ficar. Passado algum tempo em determinada condição ou estabelecida determina relação inconforma-se e volta a buscar maiores vivências comunistas pra longe dali. Com ela não dá pra usar o moderno bordão de ?Descansa, militante?. A mulher é insaciável no experienciar, aprender o novo e lutar por uma causa.
Existe, felizmente, três âncoras afetivas, além do ideal comunista, na qual vez ou outra ela encontra refúgio:
1) Geraldo Ferraz - o companheiro pra quem escreve os escritos que lemos nesse livro enquanto estava presa;
2) seu filho Rudá - por quem nutre uma relação de amor materno e culpa retratada muito bem na passagem : ?Deixei tudo isso, sem querer confessar que o meu interesse materno era menor que o meu desejo de fuga e expansão? e
3) Oswald de Andrade com quem foi casada, teve seu primeiro filho e possuía uma relação de cumplicidade e amizade que a socorria nos piores momentos da jornada política. Um relacionamento que sempre foi muito conturbado pelas diferenças de desejo sexual (excessivo para ele e repulsivos para ela).
Da metade pro final do livro, a desolação progride com os relatos de decepções com a causa operária. O auge se dá com sua vivência na Rússia.
A concretização disso aparenta ter se dado especialmente quando uma criança lhe pede esmola no Kremlin quando relata: ?Todas as conquistas da revolução paravam naquela mãozinha trêmula estendida para mim, para a comunista que queria, antes de tudo, a salvação de todas as crianças da terra?.
Li essa passagem como uma tristeza e pesar de ter deixado seu filho para uma causa que melhorasse a vida para um número maior de crianças. Era tarde demais pra admitir que não encontrou o que tanto buscava. Vide o fechamento da obra com qualificação de Stálin como ?nosso guia. O nosso chefe?.