@apilhadathay 01/02/2011
SURPREENDENTE
A morte tem o poder de separar dois corações que se amam?
O livro me proporcionou uma leitura bem mais divertida do que eu esperava, porque, pelas sinopses, acreditava que seria um drama. Durante a leitura, é possível levantar questionamentos importantes, como por exemplo: o quão longe se vai por amor?
O Vale dos Anjos reúne elementos de Cidade dos Anjos, com um toque do Torneio de Artes Marciais de DBZ. E isto deu um dinamismo enorme à obra. E pode ser uma obra de literatura fantástica, mas propõe algumas questões que eu, particularmente, considero polêmicas e vou citar durante a resenha.
O CASAL SALOUSTROS
Dimítris e Mariah Saloustros formavam um casal perfeito e apaixonado. Casados há dois anos, moravam na Grécia e viviam muito bem juntos, encontrando felicidade em coisas simples, como passar fins de semana procurando itens para a casa, comemorar o Natal numa data diferente da tradição grega, contar estrelas e o número de horas que o sol ficava no céu, nesse feriado. Sim, meninas... Romântico, Dimítris SE IMPORTAVA em fazer coisas assim com a esposa. Um anjo!
Mariah era uma bela jovem de família inglesa. E Dimítris nos cativa rapidamente, com um caráter bem singular. Grego, 22 anos, trabalhava numa loja de informática em Atenas e não conheceu os pais biológicos, apenas o homem que o criou, o Sr. Parnasos. O jovem adorava fazer caminhadas na Acrópole e fez tantas que o resultado foi mais que o esperado...
O nosso tempo terreno tem mistérios insondáveis e perguntas cujas respostas podemos jamais obter. Você já olhou para uma pessoa que amava e, de um modo muito estranho, sentiu que era a última vez que a estava vendo?
Dimítris, por exemplo, não imaginava a priori que, no ponto onde começamos a história, ele estava acordando para o que seria seu último dia na Terra. Sua vida foi abreviada em um acidente do tipo que classificamos como “estúpido”, “sem sentido” e cujas reais razões, apenas ele conhecia, literalmente, no seu coração.
O que o jovem também não sabia é que, depois da morte, sua vida estaria apenas começando.
OBELISCO E PARNASOS
O grego foi recebido (durante sua passagem) pelo anjo guia-de-enterro Obelisco – meu personagem favorito na trama: um cara de capuz branco que os humanos só viam uma vez na vida. Durante a passagem, Dimítris viu flashes de cenas importantes de sua infância e juventude, só que acrescentadas de alguns detalhes. Aí nos perguntamos: estariam aqueles detalhes ali desde sempre e ele só se deu conta no momento da morte?
Dentre aqueles momentos, vislumbramos a difícil relação que Dimítris tinha com seu pai Parnasos – que, mesmo não compartindo o mesmo sangue do rapaz, tinha os mesmos olhos azuis do filho adotivo, algo que eu achei, no mínimo, curioso.
Obelisco guiou Dimítris para seu julgamento – nesta audiência, seria decidido se o jovem descansaria no Paraíso ou seria encaminhado para as Oito Prisões. Conhecemos de perto Isaac e Overlord, que cuidavam, respectivamente, da defesa e da acusação dos julgados. Também, temos o prazer de ver Malaquias, que é um dos anjos-deuses e uma figura!
Durante o processo, algumas das melhores características de Dimítris são apresentadas. Ele não foi encarcerado e tampouco chegou perto de descansar em paz no Paraíso, mas teve um destino interessante.
Antes de mais nada, levado à Terra para presenciar seu funeral e ver seus entes queridos uma “última vez”, Dimítris recebeu a chance de falar com sua esposa graças ao poder de seu amigo guia-de-enterro, Obelisco. Por cinco minutos, o jovem poderia tomar a forma humana e passaria despercebido pelos agentes do Paraíso.
Ô, PROMESSA!
Na manhã em que morreu, antes de sair de casa, Dimítris fez Mariah prometer uma coisa absurda: a de que não se envolveria com nenhum outro homem, no caso de ele morrer. Pois bem, tendo a chance de falar com Mariah mais uma vez, ele chegou a fazer uma promessa mais absurda ainda: a de que voltaria à vida pra ficar com ela!!
Mesmo que eu não tenha concordado com seus motivos (porque acredito que nós precisamos aproveitar o hoje e o agora enquanto TEMOS o HOJE e o AGORA, e não quando isso nos for tirado), gostei muito de Dimítris, sua determinação e seu jeito único. É algo inspirador e algumas lições ficaram comigo.
DIMÍTRIS
Quando menino, ele detestava a solidão e o escuro.
Do tipo jeans e camiseta, Dimítris Saloustros é bondoso, cavalheiro e humilde. Tem grande amor pela natureza, é sensível e sabe respeitar o espaço dos outros. É aquela pessoa que sabe o momento certo de falar e o de ajudar alguém apenas com a presença e um abraço amigo. Ele também é ótimo em jogos psicológicos (em outras palavras, em declarar a verdade nua e crua).
É atrevido e diz o que pensa: posso dividir com ele o apelido de “novato (a) insolente”! Ele causa mudanças na vida de umas pessoas (e na morte de outras): Malaquias, Obelisco e Anne que o digam.
Dimítris tem reações naturais, é muito espontâneo e não se importa com o que vão pensar dele. Tem um toque de ingenuidade que é lindo de se ver; e ele é do tipo que não há quem conheça e não goste, como Lily Evans/Potter. Faz amizade onde chega, sente-se em casa em qualquer lugar e faz as pessoas se sentirem à vontade perto dele – embora seja muito curioso e faça perguntas até demais, detalhe que Obelisco notou de cara.
"Agora, sem mais perguntas, pois como lhe disse, há pouco, não tenho a morte toda para responder a todas elas"
Por outro lado, em certos momentos, eu esperei que o grego encarasse as situações com um pouco mais de maturidade. Afinal, casou cedo, trabalhava firme, construía uma vida quando foi interrompido... é de se esperar que tenha algo que muitos demoram bem mais para encontrar na vida: juízo e sabedoria. Cenas como a da catraca no Japão, por exemplo, ele poderia ter tirado de letra com um pouco de topete – e seria legal de ver sua atitude.
"Depois do metrô... quero evitar qualquer tipo de transporte diferente das minhas pernas"
O VALE DOS ANJOS
Após a morte e julgamento, Dimítris é levado ao Vale dos Anjos, lugar que abriga o Olimpo, o Paraíso e as Oito Prisões, e onde se leva uma vida quase igual à da Terra. Quase.
Existem muitas subdivisões, por data de morte das pessoas; para rever um ente querido, você precisa migrar. Há portais dimensionais no Olimpo, de onde você pode se deslocar para qualquer lugar do mundo em questão de segundos.
Lá, Dimítris descobriu que todos podem se tornar anjos; que quando há duas pessoas com o mesmo nome na equipe, uma passa a ser chamada por um apelido; que só poderia ir à Terra por um período de 10 anos, se não fosse anjo; e que as pessoas têm um corpo físico, antes da morte, e um espiritual pós-morte: ao passo que a pessoa evolui, o corpo espiritual funciona praticamente como o físico, até se habituar à nova vida. E mais, dependendo do que o atingir, o corpo espiritual pode morrer de vez e ser extinto.
_ Aqui, você não é obrigado a nada, já que você veio para descansar. Quer trabalhar? Ótimo! Se quiser sair do emprego, tudo bem, entendeu?
_ Nossa, aqui é o que realmente podemos chamar de 'O Paraíso'!
Dimítris percebeu que a sabedoria evolui junto com as funções desempenhadas e que há muitas castas e possibilidades de crescimento. No Vale, seus bons atos como voluntário vão render conhecimento e RECONHECIMENTO, para que possa evoluir e se tornar anjo, ou um anjo de casta mais elevada.
Enquanto lia a trajetória de Dimítris e Obelisco, vi Arthur sendo guiado por Ford Prefect por todo um espaço desconhecido. Creio que fãs de Douglas Adams e da temática dos anjos vão gostar muito da história.
Outro ponto a favor do grego é: mesmo que, no primeiro momento, tenha se chocado com a morte tão prematura, ele não foi rebelde. Aceitou a nova realidade muito melhor que outros que vieram antes dele. Tanto melhor, não é?
Eu gostaria que o diálogo entre ele e Aila tivesse sido mais natural. Até compreendo que, depois de certo tempo de evolução da alma, mesmo uma criança se portaria com alguma gravidade, especialmente exercendo a função dela. Mas gostaria de vê-la mais alegre, serelepe, passando a imagem de uma alma limpa e não porque era pura, aos 7 anos, mas porque era feliz ali.
VISÃO INOVADORA DO PARAÍSO
Num lugar com uma paisagem exuberante sendo descortinada a cada dia, foi muito diferente essa visão do Paraíso e alguns pontos me fizeram arregalar os olhos. Imagina continuar com alguns aspectos humanos e poder trabalhar, praticar esportes, participar de eventos, ler jornais do Além! Tudo em caráter facultativo visando seu crescimento.
Gostei muito dos limites impostos sobre as conversas entre pessoas de épocas diferentes – linhas que poderiam causar catástrofes, se ultrapassadas – como as pessoas que viveram no nosso século não poderem se comunicar com os da pré-história. Ali não importam as vestes de alguém, suas posses, funções, idiomas nativos ou seu passado. Todos são semelhantes e podem conviver em harmonia, desde que sigam as regras. Inclusive, eu ri muito com o primeiro encontro de Dimítris com Lepidus:
_ Ouvi falar muito de você nos livros e na internet...
_ Internet, o que é isso? Onde fica?
ANNE, A CUPIDO
No Paraíso, Dimítris faz outra amizade valiosa: Anne, uma cupido ruiva, de lindos olhos azuis, beleza estonteante e com uma história que guarda tanto mistério quanto sofrimento... e que só descobrimos mais para a frente. Ela orienta as pessoas nas questões de amor, e não apenas o passional. E, supostamente, não poderia namorar.
Obelisco é muito divertido e cheio de graças, especialmente ao lado dela. Meu capítulo favorito foi o 8, quando vimos mais de perto como era a relação entre eles. Ele sempre leva as coisas no bom humor – e saber da vida dele na Terra explica muitas atitudes.
"Existem amores que não acabam com a morte"
PONTOS A DISCUTIR
Primeiro.
Se duas pessoas realmente se amam, uma deixa a outra livre para que fique ou volte por vontade própria. É justo forçá-la a se apegar a uma promessa como a que Mariah fez? Considero, no mínimo, cruel que a pessoa se sinta impedida de dar um novo passo e seguir com sua vida porque se agarrou a uma obsessão, ou a uma tentativa que pode ser bem-sucedida ou não. A não ser pela ligação entre eles, que é tão forte, como Anne reparou...
_ Vocês dois têm uma conexão muito grande, eu nunca vi isso!
_ Nós dois somos um.
Segundo.
A continuidade das funções que se realizava na Terra. Vale a pena continuar apegado a uma realidade que já não é sua, às pessoas e coisas terrenas, agora que a sua alma tem a chance de evoluir espiritualmente? Isto não pode fazer bem a quem está aqui ou a quem está lá. Se fôssemos para permanecer juntos, não seríamos capazes de viver para sempre?
Vemos o estado em que Mariah se encontrava no Natal: crente de que ele voltaria, ela desafiou até a descrença dos pais e preferiu se isolar.
Terceiro.
Ciente de todas as consequências, Dimítris não pensou duas vezes antes de topar uma forma ilegal de incorporar a forma humana e voltar à Terra, mesmo abusando da condição de um anjo-semideus. Será válido arriscar a eternidade por uma fração do tempo que, comparada àquela, parecem segundos? E mais... num Torneio de que devem participar 2 BILHÕES de candidatos? (E isto não é uma hipérbole)
"Não desista do seu sonho, pois se todos pensassem somente nos números, ninguém participaria"
Quarto.
É possível uma pessoa morrer de tristeza? Definhar sentindo aquele tipo de agulhada incômoda no peito, aquela dor que não passa? Sim, já vi acontecer e não é algo bonito de se ver: é triste, doloroso e é algo que você certamente não vai querer presenciar nessa vida. Lembrei desse caso quando descobri a razão da morte prematura de Anne, aos 21 anos.
XAMÃS E SENSITIVOS
Engraçado, os xamãs (que incorporam) e sensitivos (que ouvem e psicografam) já estão de tal forma habituados ao contato com espíritos que nem se assustam mais. Achei interessante sua função na história. É muito bonito imaginar alguém que cede parte de sua vida a uma missão espiritual linda como esta.
O TORNEIO DOS CÉUS – Treino e Eliminatórias
Num estádio de proporções fenomenais, que faz o Coliseu de Roma parecer uma arrumação bonitinha de Legos, um evento permite a união de embates corporais e energia angelical e promove a chance de alguém ascender a anjo-semideus. Apenas uma vaga. Naturalmente, seria uma briga para vencer ou vencer.
"Desafios nunca faltarão"
Eu simplesmente amo alguns mistérios da vida (e, no caso de Dimítris, da morte): quando você acha que não há mais saída, que ninguém pode ajudar, que está tudo perdido... enquanto permanecer na fé e mantiver seu desejo firme e forte... Vai surgir um modo, uma saída.
E assim, surgiu o ser de capuz que encaminhou Dimítris para o velho Mestre Ramirez – o homem que ensinou o grego a voar, revelar e controlar seu poder, e que o preparou para ser um dos favoritos do Torneio. Entramos na ação, de fato, no capítulo 14, quando Dimítris começou a treinar e, com aquela determinação característica dele, em apenas um mês, já realizava proezas, como bater recordes de Brian, o outro pupilo de Ramirez.
O período de treinamento de Dimítris na mansão me lembrou muito o tempo que Goku passou treinando com Mestre Kame e Kuririn – quando o pequeno sayajin conheceu aquele que seria seu melhor amigo. Mas antes disso, houve competitividade, inimizade e certa dose de inveja porque Goku e Dimítris mostraram poderes superiores em pouco tempo.
Imaginando a relação entre o grego e Brian e lembrando a reação de Goku pela primeira morte de Kuririn, depois da amizade consolidada, penso: algumas pessoas perdem tanto tempo com ciúme, em vez de aproveitar cada minuto da amizade e da convivência para crescer e vencer falhas, mirando-se num bom exemplo.
O embate entre os pupilos do Mestre Ramirez terminou exatamente como imaginei: o resultado mais adequado, dado o poder de cada um e o desejo que ambos tinham de participar daquele evento!
A propósito, veja a diferença entre um mestre e um aprendiz: no treinamento de voo, Dimítris questionou o tempo que outros pupilos levaram para conseguir tirar o pé do chão. Ramirez, porém, resguardou esta informação até que o jovem conseguisse retornar voando a sua casa. Assim, ele não ficaria estressado, comparando-se a possíveis padrões superiores, nem soberbo e relaxado, no caso de ter ultrapassado alguém e resolver que poderia ter uma folga.
Eu já disse que sou fã de Obelisco?
Quando olho para a capa do livro, imagino a arena do Coliseu do Torneio, vista de cima: a esfera gigantesca, de onde os participantes eram observados em ação; na parte superior, a larga abertura representando todos os candidatos; e abaixo, a estreita faixa por onde só passariam os vitoriosos (muito embora Dimítris e seu caráter diferenciado façam questão de levar todos pelo caminho dos vencedores).
Dimítris teve de lidar com o assédio da imprensa no Paraíso pela grande demonstração de seu poder nas eliminatórias do Torneio. É, parece que uma vez repórter inconveniente, sempre repórter.
O TORNEIO DOS CÉUS – A Hora H
Na abertura oficial do Torneio, mais uma vez o amor é posto em destaque, desta vez como responsável pelo bom andamento das coisas. Quando da representação da construção daquele mundo, tudo foi erguido e funcionava corretamente, todos os elementos estavam ali... mas faltava aquele toque, aquela cor.
"Apesar de todo o mundo ter sido criado, faltava amor aos elementos, e apenas isso faria com que todos os outros pudessem viver em harmonia"
Fiquei feliz, mas não surpresa, ao descobrir o poder de Dimítris, porque já suspeitava dele. Surpresa mesmo eu fiquei quando outras habilidades se mostraram no evento: aquilo, eu não esperava. É natural que algumas pessoas tenham inveja dele.
Controlar a rota do poder é muito útil, mas o poder da espada do Tempo é incrível! Vemos aqui a importância do treino na vida de alguém que pensa ser eternamente incapaz de algo porque não consegue realizá-lo AGORA. Treinar é aperfeiçoar.
O bom de eventos assim é que nunca falta o que fazer, o que assistir, aonde ir. Sempre há alguma partida, uma luta e a chance de observar em ação seu próximo adversário.
No caso do embate de dois adversários que pertencem ao mesmo elemento, era de se esperar uma luta grandiosa. Eu adoraria ver no cinema a cena do F3 formado dentro da arena! Tornados, simplesmente, me apavoram mais que furacões, porque são verdadeiros monstros que a gente pode ver e não pode vencer.
Infelizmente, o Torneio terminou com más notícias e elas podem se estender por um bom tempo, mas espero que não!!
PERGUNTAS QUE NÃO QUEREM CALAR
Onde está Parnasos?
E por que Cronos anda ausente há 20 anos?
Um dos dois será o homem misterioso que está tão interessado em Dimítris?
O Torneio verá Obelisco e Dimítris unirem suas forças - já que isso seria muito, mas muito legal de se ver?
ALGUNS PONTOS...
A revisão. Temos aqui uma história incrível, com alguns trechos cuja ordem eu alteraria, e alguns termos, que me deixaram confusa; preciso reler a história, para ter certeza de que li certo como as coisas se revelaram e se desenvolveram. Por exemplo, o funeral do Sr. Ishizuki.
Emoção de fim de capítulo. Sabe aquele gancho que te faz até perder o sono e não dormir direito, só pensando no que vai acontecer depois?
EM SUMA
Onde existe amor, todas as possibilidades de crescimento já vivem e têm plena condição de se desenvolver. É como andar de bicicleta: depois que você enxerga e entende, quando vivencia aquilo, não desaprende: só melhora. Se sumiu, não era amor desde o início.
Nada neste mundo se espalha de forma tão rápida ou cria raízes tão profundas quanto o amor: as pessoas só precisam perceber isto.
E, mesmo que de uma forma obstinada como a do nosso protagonista, creio que Dimítris propôs o mesmo: que não há mesmo limites para um coração apaixonado.
Adorei!