luanivea 31/05/2021
A Coisa
É muito difícil dar uma nota pra esse livro pq ele me causa alguns sentimentos divergentes e parei pra refletir um pouco antes de escrever essa resenha e dar a nota.
A escrita da autora é linda, a forma que a personagem Aglaia descreve seus sentimentos é poética e ao mesmo tempo angustiante. O livro é cheio de metáforas, referências culturais brasileiras incríveis, o que aliás, faz com que o leitor facilmente se identifique com o cenário descrito.
A Aglaia é uma personagem que ou você quer fazer de tudo pra que ela fique bem ou você a odeia. Os sentimentos dela são muito conflitantes, é difícil vc sentir empatia por ela durante o livro inteiro, aqui temos uma mente perturbada, um transtorno psicológico que vai agravando conforme ela vai crescendo.
Veja bem, uma mente como a dela, tudo o que é muito claro pro leitor, para ela é um mar de conflitos e um sentimento de solidão, então é muito fácil para o leitor que for ler esse livro levianamente julgar essa criança.
A construção dos familiares dela é muito interessante. No enredo nós temos uma mãe, que sustenta a casa e ao mesmo tempo se encontra em um estado de submissão enorme para com o marido. O marido é um dramaturgo egocêntrico, uma daquelas pessoas que te julga se você estiver vendo um filme capenga, ou o que só lê clássicos e se acha superior. Para Aglaia ele é incrível, e ela faz de tudo para se aproximar mais do pai, e assim ela mergulha na literatura e no cinema para ter um pouco da atenção dele, e essa dependência sobre ele vai causar sentimentos odiosos quando a personagem se vê obrigada a dividir o lar com uma menina que chega inesperadamente para viver com eles. E na visão dela, a menina toma tudo o que ela mais ama. E o ciúme e a possessão toma conta de Aglaia, ao longo do livro ela toma atitudes horríveis, e a gente fica com vontade de pedir socorro por ela.
Tudo isso ela vai acumulando e gerando transtornos alimentares e psicológicos, é muito interessante acompanhar isso no livro, mas é muito difícil também. Achei interessante como a Aglaia se refere a depressão e a ansiedade, chamando ela de A Coisa, pq no início ela não entendia o que era, mas sabia que vivia ali dentro.
No entanto, o que me impediu de dar 5 estrelas para esse livro foi, principalmente, o final. Eu achei desnecessário, durante o enredo acontecem coisas detestáveis, mas o fim é algo que eu achei péssimo. Qual a finalidade daquilo? Nenhuma! Não acrescentou em nada, a não ser sofrimento.
Outra coisa, que eu não sei bem se foi só impressão minha, mas a autora passou a ideia de que o tratamento profissional que ela recebeu não foi útil, que a terapia e os processos não adiantam em nada. Eu sei que não é o foco do livro, mas acho que tinha que ter um cuidado com essa parte. Principalmente para quem ler o livro e estiver passando pelo mesmo. Entendo que o caso dela é grave, mas me deixou um pouco encucada essa ideia.
Enfim, é um livro com muitos gatilhos, difícil de ler, mas é lindo a forma com que foi escrito e construído. Quero voltar a ler com um olhar profissional, caso eu faça a graduação em psicologia.