Resenhas -

Marcos606 16/08/2023

Estruturado como uma história emoldurada contendo 100 contos relatados por um grupo de sete moças e três rapazes; que se abrigam em uma vila isolada nos arredores de Florença para escapar da Peste Negra, que afligia a cidade. Boccaccio provavelmente concebeu a obra após a epidemia de 1348 e o completou em 1353. Os vários contos de amor em O Decamerão variam do erótico ao trágico. Contos de humor, piadas práticas e lições de vida contribuem para o mosaico. Além de seu valor literário e ampla influência, fornece um documento da vida na época. Escrito no vernáculo da língua florentina, é considerado uma obra-prima da prosa clássica italiana.

Para passar as noites, cada membro conta uma história a cada noite, exceto um dia por semana para tarefas domésticas e os dias santos em que não trabalham, resultando em dez noites de contação de histórias ao longo de duas semanas.

Cada um dos dez personagens é colocado como Rei ou Rainha do grupo por um dos dez dias consecutivos. Isso se estende à escolha do tema das histórias daquele dia, e todos os dias, exceto dois, têm tópicos atribuídos: exemplos do poder do acaso; exemplos do poder da vontade humana; histórias de amor que terminam tragicamente; histórias de amor com final feliz, entre outros. Apenas Dioneo, que costuma contar a décima história de cada dia, tem o direito de contar uma história sobre qualquer assunto que desejar, devido à sua sagacidade. Muitos comentaristas argumentaram que Dioneo expressa as opiniões do próprio Boccaccio. Cada dia também inclui uma breve introdução e conclusão para continuar o quadro dos contos, descrevendo outras atividades diárias além de contar histórias. Esses interlúdios de enquadramento frequentemente incluem transcrições de canções folclóricas italianas.

Os enredos recorrentes das histórias incluem zombar da luxúria e da ganância do clero; luxúria e ambição feminina em pé de igualdade com a luxúria e ambição masculina; tensões na sociedade italiana entre a nova classe comercial rica e as famílias nobres; e os perigos e aventuras dos comerciantes viajantes.

Ao longo do Decamerão a ética mercantil prevalece e predomina. Os valores comerciais e urbanos de raciocínio rápido, sofisticação e inteligência são valorizados, enquanto o vício da estupidez punido.

Além da unidade fornecida pela narrativa, o texto fornece uma unidade na perspectiva filosófica. Por toda parte corre o tema medieval comum da Roda da Fortuna (acaso), e quão rapidamente alguém pode subir e descer através de sua influência. Boccaccio havia sido educado na tradição da Divina Comédia de Dante, que usava vários níveis de alegoria para mostrar as conexões entre os eventos literais da história e a mensagem cristã. No entanto, o Decameron usa o modelo de Dante não para educar o leitor, mas para satirizar esse método de aprendizado. A Igreja Católica Romana, os padres e as crenças religiosas se tornam a fonte satírica da comédia. Isso fazia parte de uma tendência histórica mais ampla após a Peste Negra, que viu um descontentamento generalizado com a igreja.

Muitos detalhes do Decameron são infundidos com um sentido medieval de significado numerológico e místico. Por exemplo, acredita-se amplamente que as sete jovens representam as Quatro Virtudes Cardeais (Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza) e as Três Virtudes Teologais (Fé, Esperança e Caridade). Supõe-se ainda que os três homens representam a clássica divisão tripartida grega da alma (Razão, Espírito e Apetite).