Adriano 03/06/2021
Horror psicológico
Paula Febbe abre a coleção Dragão Negro com um livro de horror psicológico muito bom. Leitura gratificante.
1°livro da coleção de horror com projeto no Catarse.
Trechos:
A MORTE JAMAIS FOI ENSINADA NAS ESCOLAS DELES OU EXPOSTA COMO FATO, PORTANTO ELA NUNCA EXISTIU NAQUELE LUGAR. VIVEM SEM QUE NESSAS VIDAS HAJA ESSA SOMBRA. SEM ANSIEDADE POR VIVER CONSTANTEMENTE
COM UM FIM QUE OS AFUGENTE.
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Para os que vivem na aldeia, a não morte jamais significará não sofrimento. Aliás, significa exatamente o excesso de sofrimento. Até amar pode ser complicado. Afinal, isso poderá ser para sempre, jamais ser correspondido e, como vivem num lugar pequeno, com população bem reduzida, o apaixonado teria que ver a pessoa todos os dias. Para sempre. Seria como ter o coração em chamas sem fim, até porque o aprendizado, com eles estando sempre no mesmo lugar e convivendo sempre com as mesmas pessoas, não poderia ser grande, portanto não aprenderiam a amar nada diferente do que haviam aprendido no início. Ficar doente acontecia, claro, e isso também, às vezes, para sempre. Toda doença que não era curável virava crônica e tornava-se, então, a causadora de um sofrimento execrável.
Assim que cheguei, tive a impressão que nunca alguém havia sido tão feliz e tão triste, ao mesmo tempo, quanto eles.
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Na separação, no vácuo que há entre você e o outro, quando você percebe que algo mais, além de você, existe, é aí que começa a possibilidade do amor existir. De maneira nenhuma, antes disso.
Antes disso, só raiva.
Nossa relação primária com nós mesmos é de asco, revolta e raiva, pois a junção do outro em você, a junção do mundo em você, te causa ódio. Eu queria ser sozinho, mas com você. Você queria ser o nada.
Por isso, a completa intimidade só pode trazer o caos.
Muitos de nossos defeitos são o que desfazemos de nós no inominável. É nossa revolta por estarmos nessa realidade tão indizível quanto o espaço que há entre nossos afetos.
À consistência é só uma questão de ter pouco tempo. Uma amostragem solitária do que tudo em você realmente foi.
Viver é muito real para quem ainda está vivo. Palpável. Isso é inegável. Até mesmo o tédio pode fazer parte dessa conversa, pois todo dia as pessoas acordam, todo dia as pessoas dormem, e a rotina as torna incrivelmente pedantes. Afinal, nem toda a imensidão da vida e os questionamentos em relação à humanidade, nem tudo sobre a unidade de nossas relações é capaz de nos manter maravilhados por um tempo muito grande.
Inconsistentes juvenis...
Todos fomos e nunca deixaremos de ser.
Parece ser nossa essência, não parece?
Uma redundância eterna do que fizemos de mais humilhante.
Juvenis falando por meios parabólicos sobre nossos feitos.
O que buscamos na admiração do outro?
Amor ou inveja?
Você, de fato, sabe me dizer?
Lembro de quem fui quando era jovem sem saber que morreria jovem, e me odeio ainda mais. As roupas, os pensamentos, o que eu vestia que me pertencia eo que ceu vestia que jamais me pertenceu. Quanto absurdo! Se aqui há apenas a possibilidade de sermos aquilo que contemos, assim seremos a cada segundo. Nada difere em relação a isso. Todos temos em nossas costas o peso daquilo que não foi dito no momento oportuno. E todos nós achamos que teria sido melhor de outro jeito, pois o agora não traz paz. Mas a paz é pólvora no revólver de quem te ama e não atira.