Os cinco paradoxos da modernidade

Os cinco paradoxos da modernidade Antoine Compagnon




Resenhas - Os cinco paradoxos da modernidade


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Natali 30/04/2012

Por muito tempo tratou-se por moderno aquilo que rompe com a tradição e por tradicional o que resiste à modernização. Falar de tradição moderna seria no mínimo paradoxal; porém, paradoxos não são uma barreira para Compagnon, ao propor, em “Os Cinco Paradoxos da Modernidade”, uma história paradoxal da tradição moderna.
O primeiro paradoxo constitui-se a exemplo dos pares de vocábulos, como: antigo e moderno, tradição e originalidade, imitação e inovação, decadência e progresso, dentre outros. Tais pares são formadores de um paradigma que surge com a modernidade; trata-se da ambivalência. A dupla natureza é inevitável. Baudelaire e Manet são exemplares de que a beleza será convulsiva, bizarra ou desconcertante, ou não será.
O segundo paradoxo surge com a estética do novo, o gosto com a moda, já que a paixão do presente é sempre inseparável da decadência. Baudelaire o constatou: o moderno torna-se logo ultrapassado. Há um prazer extraído da representação do presente que, além do que mais possa ser belo, diz respeito simplesmente à sua qualidade de presente, mas essa beleza logo se tornará antiguidade e decadência. Em relação ao segundo paradoxo, é necessária uma diferenciação entre modernidade e vanguarda, e uma diferença relevante se dá em relação ao tempo: enquanto a modernidade se identifica com uma paixão do presente, a vanguarda supõe uma consciência histórica do futuro e a vontade de estar à frente de seu tempo. Os primeiros modernos não negavam a arte de ontem, nem pensavam que a arte de hoje fosse necessariamente decadente amanhã. Já os vanguardistas viveram o paradoxo de terem que considerar a própria arte perecível e logo decadente.
Em Teoria e Terror, o abstracionismo e o surrealismo, o paradoxo está no descompasso entre teorias e obras relevantes. Era de se esperar que as obras que se revelaram historicamente necessárias estivessem ancoradas em boas teorias, porém não é o que acontece no caso do abstracionismo, por exemplo, que se justificou a posteriori por doutrinas caducas, enquanto que teorias consagradas não foram capazes de consagrar obras (como no caso do surrealismo, que, radical e inovador, rendeu obras com sabor de passado). Ambos os casos ilustram a não-correspondência entre teoria e prática.
O quarto paradoxo, relacionado à lógica de mercado, e que já pertence a um período de perda da auréola do novo, revela como a tradição moderna e as vanguardas - mesmo reagindo contra a religião da arte e a sacralização do gênio – acabaram por isolar ainda mais a arte dentro do meio elitista dos museus, das universidades e da crítica. O expressionismo, ao invés de produzir uma arte mais acessível, deu lugar a uma pintura de elite. Paradoxalmente, elas reforçaram a oposição entre grande arte e arte menor até o aparecimento da pop arte, por exemplo. A arte se deslocou de Paris para Nova York e acabou adquirindo uma profunda identificação com os bens de consumo.
Pós-Moderno é o termo por si só paradoxal que norteia o quinto capítulo: Exaustão, pós modernismo e palinódia. Compagnon o define como palavra de ordem polêmica que posiciona-se enganosamente contra a ideologia da modernidade ou contra a modernidade como ideologia. O termo apareceu a princípio com caráter pejorativo e foi alterando-se nas retomadas seguintes. Nos anos 80, tornou-se um verdadeiro quarto de despejo. O principal paradoxo está na sua pretensão de romper com o moderno, e com isso, conseqüentemente, reproduzir a operação de ruptura, moderna por excelência. Para Compagnon o pós-moderno representa, talvez, a chegada tardia da verdadeira modernidade.
Hélio Rosa 21/09/2020minha estante
Adorei sua resenha, ajudou-me a decidir pela leitura desta obra o quanto antes.li dele apenas "O trabalho da citação", e estou relendo alguns estruturalistas mais contumazes, Kristeva, Barthes e Todorov. Sua frase inicial me faz pensar coisas adormecidas desde os tempos de faculdade, cito: "Por muito tempo tratou-se por moderno aquilo que rompe com a tradição".. Fiquei pensando em Hugo Friederich, propondo uma "Estrutura da lírica moderna", a partir de Novalis, Baudelaire e Poe. Distoa um pouco daquela verborragia do Marshall Berman e aponta para a chave da polifonia, o que acha?




Luana 23/12/2023

Apesar de ter lido este livro em uma velocidade mais rápida que eu gostaria, a análise do Compagnon me fez refletir se o que estamos mudando não é apenas a ferramenta tecnológica da vez, porque os paradoxos e a complexidade e os questionamentos por trás da tecnologia, são os mesmos do que ele falou há mais de 20 anos atrás. E isso, é bizarro.
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