Discurso de ódio

Discurso de ódio Judith Butler




Resenhas - Discurso de Ódio


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Toni 03/03/2022

Leitura 060 de 2021
[Cortesia da editora]

Discurso de ódio: uma política do performativo [1997]
Judith Butler (EUA, 1956-)
Ed. Unesp, 2021, 288 p.
Trad. Roberta Viscardi

Quem aí já tiver lido uma ou mais obras de Judith Butler talvez também sinta, como eu, que seus textos são relativamente fáceis de resumir a ideia principal, mas um tanto quanto densos e difíceis de retraçar o caminho desenvolvido para se chegar lá (que fique claro: uma limitação minha, não um defeito da Butler). Mesmo assim, atravessar seus capítulos ora tortuosos ora mais acessíveis traz recompensas valiosas: conceitos e reflexões fundamentais à compreensão das relações sociais e de poder que configuram nosso presente.

Um dos pontos principais da filosofia de Butler é a questão da performatividade que, em Discurso de ódio, será tratada a partir dos atos de fala que produzem violências, como discursos machistas, racistas e homofóbicos. Na tentativa de responder como as palavras podem ferir e de que maneira a injúria entra em “comunhão linguística com um histórico de falantes”, Butler se concentra na análise de quatro debates acalourados no cenário estadunidense: 1) o julgamento de um jovem que queimou uma cruz em frente à casa de uma família negra, 2) o esforço de uma parlamentar para interpretar a pornografia como discurso de ódio, 3) o regulamento das Forças Armadas que proibia a autodeclaração de indivíduos homossexuais por considerar o enunciado “Eu sou gay” uma performance ofensiva, e 4) a noção de censura como “uma forma produtiva de poder”, não apenas “privação”, mas também “formação”.

“O Estado produz discursos de ódio” é uma das conclusões/provocações da escritora. Com isso, Butler sugere que o Estado “produz ativamente o domínio do discurso publicamente aceitável, demarcando o limite entre os domínios do dizível e do indizível e conservando o poder de estipular e manter essa linha de demarcação.” Pisando fundo na ferida da “liberdade de expressão” sem limites e amparada por um Estado permeado de ódios estruturais, Butler nos oferece um labirinto linguístico, filosófico e político de cujo centro as palavras irradiam todo seu potencial de destruição e cura. #judithbutler
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jhdep 04/04/2023

Discurso ou conduta: no limiar entre o dizível e o indízivel
Com uma linguagem (um pouco) mais elucidativa e menos complexa que em seu primeiro livro, Butler discute conceitos como os de discurso de ódio, atos de fala e enunciados performativos. Dialogando, sempre de forma crítica e polêmica, com autores como Austin, Derrida, Freud e Bourdieu, ela analisa casos que envolvem o sistema jurídico norte-americano e movimentos sociais, tais como o movimento negro e determinada vertente da teoria feminista, a fim de expor o caráter normativo, proibitivo e também produtivo da instância jurídica. Propõe que essa esfera de poder não só censura discursos que considera pertencentes ao campo do indizível, mas produz essas próprias zonas de legitimidade que consideram alguns discursos como sendo passíveis de serem censurados ou não, de serem diziveis ou não, sinônimos ou não de conduta e, portanto, passíveis de julgamento e punição.

Mostra a contradição que se estabelece quando movimentos sociais ou quaisquer outras organizações progressistas se valem do discurso jurídico para validarem suas ações políticas ou punirem determinados discursos que consideram capazes de ferir. Se tornar refém de uma instância que, de forma contraditória, cria os próprios termos e objetos de seu julgamento e punição é um tiro no pé e põe em risco a própria sobrevivência e capacidade de agência dessas organizações.

Ao entendermos a importância de considerarmos os conceitos como zonas de disputa participantes de uma historicidade que nos escapa, e cujos contextos e origens não são facilmente identificáveis, questiona os entendimentos sobre autoridade e propriedade discursiva. Se palavras e conceitos são vistos como signos abertos a ressignificação, contestação, como objetos passíveis de serem submetidos a uma genealogia que escancara as normas envolvidas em sua aparente sedimentação e estabilidade ao longo dos anos, temos um horizonte, um futuro linguístico possível e caminhos mais eficientes de ação e agência política.
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Giulianapetrucci 13/12/2021

Podia ter sido muito, mas muito melhor
Assunto importante e interessante ,mas é hermético (trancado, impossível de acessar). A escrita ta desnecessariamente densa e não é por causa da tradução. O desencadeamento dos argumentos é que são intransponiveis.. às vzs da pra pegar umas ideias. E é mt densa a quantidade de autores e suas teorias que ela usa no caminho pra opiniar e traçar as próprias teses, que são de difícil compreensão.

Mas resumindo o livro, eis o post que fiz no meu instagram @crocodicas:

?Já ouvir falar dos Atos de fala do filósofo John Austin?

? É a ideia de que a linguagem não serve apenas para descrever situações e sensações. Vai muito além: nossas falas são também atos, performances que tem intenções e muitas vezes buscam obter ou provocar algo em alguém.

Como exemplos temos as perguntas, as ordens, os pedidos, os desabafos, os conselhos, as frases de amparo. As ordem e os pedidos mobilizam e requisitam. Os conselhos oferecem alternativas. As frases de amparo buscam tranquilizar.

É nessa linha que Judith Butler analisa os discursos de ódio. As palavras tem o poder de ferir, elas acessam a nossa vulnerabilidade, já que estamos submetidos à linguagem e precisamos dela para existir como humanos.

Mas ela não só nos constitui; a linguagem pode ameaçar nossa existência.

Butler afirma que o discurso de ódio não apenas comunica ideias ofensivas, mas coloca em ação a própria mensagem que ele comunica.

Há, no entanto, a possibilidade de se apropriar da ofensa e ressignificá-la, como aconteceu com a palavra "bicha" pela comunidade gay. Vemos isso no documentário no Youtube: "Bichas - O documentário".

O termo era embutido de um sentido pejorativo, mas sua repetição pelos proprios sujeitos a quem a ofensa era direcionada criou um sentido de resistência e apropriação. Então por que não correr o risco e mergulhar dentro de um termo, se apropriando dele e batendo no peito pra ser o que se é? Isso o que Butler quer dizer com o caráter de insurreição da linguagem! Uma verdadeira disputa pela polissemia.

Existem muitos exemplos mobilizados pelos movimentos sociais dessa ressignificação! E Butler considera esse discurso inssurrecionário como alternativa às injúrias e ofensas.
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Juliana 18/07/2022

Fiz a leitura de Discurso de Ódio ao longo de 4 aulas de uma disciplina. Certeza que essa leitura de forma coletiva e didática (cada capítulo era apresentado por um ou dois estudantes) fez toda diferença para a compreensão desse livro, para os desavisados, Judith Butler é uma leitura BASTANTE complexa. Primeiro porque ela já tem um estilo de escrita (talvez de retórica?) que é bastante abstrato, não é nada conciso e/ou didático, com parágrafos e frases bem longos. Temos também muitas referências filosóficas que eu não domino. Então, poder fazer essa leitura aos poucos, tirando dúvidas, trocando impressões, foi central para mim.
Butler faz um exercício de entender o discurso como ação, dando alguns passos além do que o Austin propunha de linguagem como ação, para depois fazer uma proposta de como entender o discurso de ódio e provocar insurreições contra ele. Ela faz um apanhado bem detalhado de julgamentos, leis, trabalhos sobre a pornografia, para ir desenvolvendo seu ponto (às vezes um pouco repetitivo).
Não necessariamente concordo ou discordo com como ela trata a questão do discurso porque ainda estou entendendo como eu encaro o papel do discurso na formação social, mas foi uma leitura fantástica no sentido de quebrar algumas inocências que temos em relação ao discurso de ódio, já que o discurso não é um produto de um sujeito isolado que profere algum enunciado injurioso, mas toda uma construção maior que aquilo.
Enfim, vale muito a pena, mas fica o aviso que ele é bastante complexo.
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Biblioteca Álvaro Guerra 24/11/2022

A obra examina os debates acalorados sobre o casos de discurso de ódio dirigido especialmente contra minorias. Em diálogo com o pensamento de autores como Derrida, Austin, Lacan e Althusser.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9786557110577
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Ana 01/05/2023

A linguagem é compreendida como ação.
Publicado pela primeira vez em 1997, Discurso de Ódio: Uma Política do Performativo escrito pela filósofa Judith Butler aborda como a linguagem é viva, mutável e pode ser usada para ferir. Aqui a autora dialoga com diversos pensadores como Austin e seu conceito de Atos de fala, a subjetividade em Derrida, a sexualidade em Foucault, habitus de Bourdieu, o feminismo em Matsuma entre outros. Tem uma linguagem técnica e exige um mínimo de conhecimento desses conceitos, pois a autora concorda com uns e discorda de outros.
Aqui ela defende que o Ato da fala é mais do que pronunciar palavras. São atos corporais e agem, moldam, determinam as ações. Mas ao mesmo tempo que pode ser usada para agredir, também proporciona indentidade às pessoas, um lugar de pertencimento e portanto o discurso de ódio pode ser ressignificado. O livro tbm reflete sobre a difícil diferenciação entre liberdade de expressão e discurso de ódio. Qual o limite entre eles? Como identificá-los? Discurso de ódio é definido como palavras injuriosas direcionadas a minorias e assim subjugá-las, colocando-as em uma posição inferior ao do falante.
O texto tbm diferencia preconceito de discriminação, sendo que o primeiro age no campo da ideia enquanto o segundo é ação. Se as palavras são atitudes e constroem nossa identidade, produzem nosso corpo e são ferramentas, então podemos usá-las para combater o discurso de ódio e conceber uma sociedade mais tolerante. É um excelente livro, com muitas reflexões interessantes e exige diversas releituras.
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