Resenhas - Homens justos

Herley 19/05/2023

O Homem não passa de uma ilusão (que nos custa caro)
Bem ao gosto de nosso tempo, uma metanarrativa que caduca e precisa ser revista -- e portanto complexificada, posta em perspectiva, compreendida e, por que não, legada à arqueologia -- é a das essências masculina e feminina enquanto impulsos complementares constitutivos, anacrônicos e incondicionais da vida humana como tais.
Para esse fim, esse pequeno ensemble de história das masculinidades e de manifesto inclusivo de feminismos me parece muito bem vindo. Sublinhando as relações de constituição, seleção e regramento dos gêneros humanos em diferentes tempos e lugares, agenciando métodos da arqueologia, da neurociência evolucionista, da sociologia, etc ao método historiográfico, o autor demonstra sua tese: a chamada masculinidade de dominação não senão uma dentre tantas formas de vida possíveis e é, por definição, injusta (disto sabemos) tanto com seus aliados quanto com aqueles que ela domina, subjulga, exclui e destrói. A isso, segue-se uma provocação: se ainda dependemos tanto do binarismo homem-mulher em nossas culturas, como livrarmo-nos ao menos da masculinidade de dominação, como minarmos sua hegemonia e sua tirania assassina e suicida? A resposta poderia ser dada em termos deleuzoguattarianos: entrar em um devir-mulher, não para tornar-se aquilo que o patriarcado procurou enquadrar e legar às mulheres, mas para com elas infiltrar e fissurar os muros do círculo patriarcal e assim permitir que novas e múltiplas formas de vida se criem.
O autor dá sua contribuição ao tempo histórico revelando o caráter multifacetado e plural das masculinidades e interpela aos homens de hoje se eles são capazes de uma vida justa.
Leitura recomendadíssima.