Douglas.Bonin 28/06/2022
Uma leitura sem ambição
Em uma mulher sem ambição, somos apresentados a Mercedes, uma mulher que vive à margem social, dando aula no que parece ser um curso de roteirização-ou-qualquer-coisa-do-tipo.
A narrativa faz uso de registros em diário, apesar de acompanha-la durante quase um mês, a vida da personagem não encontra grandes momentos ou narrativas heróicas.
O desenvolvimento desta falta de ambição está na falta de interesses econômicos da personagem. Ela se incômoda e entende a necessidade de conseguir alguns trocados, mas teme que está "ambição" possa levar ela a se negar.
A lógica de alguém sem ambição esta atrelado a ambições de uma visão capitalista, de uma mulher que deveria se sujeitar a um bom marido, que consiga sustentar o lar, enquanto ela se preocupa com a criação das crianças.
A narrativa evolue em sua simplicidade, alternando entre o romance com um homem não desejado, e um sentimento platônico com o homem desejado. Além de uma geografia paulista suburbana, que serve neste romance como uma cola, que une os personagens e ao mesmo tempo, estabelece o lugar de cada um dentro da sociedade.
Não achei um grande romance, acho que apesar da falta de ambição da personagem, acabamos preso em uma história de nada. Ao mesmo tempo, Mercedes é uma pessoa fantástica, destas que queremos como amigos.
Aos meus colegas que viram a Internet sair da conexão discada, poderam encontrar nesta mulher sem ambições aquilo que sentimos todos os dias que refletimos sobre nossas vidas: A onde é que eu tô? Aqui é a Lagoinha? Não sei, mas hoje é dia 28 e tenho que também pensar bem nos gastos até o pagamento do outro mês.
"É desanimador olhar dezenas de chances que não se aplicam a mim. Me oprime a sensação de que há milhões de pessoas fazendo milhares de coisas. Não ter um caminho quando aparentemente existem tantos, me faz sentir incapaz e fracassada."(ANZUATEGUI, 2021)
Talvez seja isto, certo? Talvez seja esta dúvida de quem somos e de quem queremos ser, a marca que acompanha os indivíduos de uma sociedade que não sabem muito bem o que quer. Vive e sobrevive.