Queria Estar Lendo 02/12/2016
Resenha: Menina de Vinte
O que falar desse livro que levei tanto tempo para ler e me fez mudar de opinião tantas vezes? Pensei muito sobre essa resenha de Menina de Vinte até descobrir como me expressar sobre um chicklit, já que fazia tanto tempo que eu não lia um.
A história acompanha Lara Lington, a única filha do irmão mais velho de Bill Lington, o dono de uma gigantesca rede de cafés, extremamente rico e bem sucedido. Quando o livro começa, Lara está obcecada com o termino de seu namoro de longa data, tentando entender o que deu errado já que Josh, seu ex-namorado, nunca lhe deu uma satisfação sobre o termino. E agora ela precisa ir ao velório de uma tia-avó de 105 anos que ela nunca conheceu para tentar conseguir a ajuda de seu tio Bill para alavancar sua empresa de caça-talentos, já que ela não sabe nada do que está fazendo desde que sua parceira, Nathalie, abandonou a empresa e ela.
"Honestamente, é tão fácil conseguir o que você quer quando as pessoas pensam que você é uma psicopata."
Mas no funeral, tudo muda. Quando estão prestes a fechar o caixão para a cremação, Lara ouve uma garota gritando por seu colar. Ela não é muito mais nova do que Lara, mas está totalmente caracterizada como os anos 20 e obrigada Lara a parar a cremação para que possa encontrar seu colar.
O problema é que a garota se apresenta como Sadie Lancaster. Sua tia-avó. E Lara é a única que pode vê-la e ouvi-la.
"Você não pode simplesmente desligar seus sentimentos porque a outra pessoa o fez."
Depois de inventar uma história sobre a tia ter sido assassinada na casa de repouso em que morava e se meter em confusão com a polícia, Lara precisa correr contra o tempo para encontrar o colar de Sadie para que ela finalmente possa descansar em paz. O problema é que o colar não está entre as coisas de Sadie e isso quer dizer que elas estão presas uma a outra até que Lara possa encontrar aquilo que Sadie está procurando -- e pelo caminho, descobrir muitas coisas sobre si mesma, a família e sua tia-avó.
Sophie Kinsella é a rainha dos chicklit, na minha opinião (logo ao lado de Candace Bushnell e Helen Fielding). Ela vem escrevendo sobre ele há vinte anos e é garantia de risadas, embora em Menina de Vinte eu tenha me deparado com algumas situações que eram ridículas e absurdas demais até para um chicklit, mesmo que estivesse tratando de um fantasma.
O começo do livro me deixou bastante chateada. A única coisa que eu tinha lido da Sophie até então era Os Delírios de Consumo de Becky Bloom e apesar de um certo desgosto com a protagonista, eu tinha gostado muito do fato da história se concentrar exclusivamente em Becky e seus problemas com o consumismo, e não com em uma caça a relacionamentos amorosos. Esperava algo parecido de Menina de Vinte, mas a principio não foi o que eu encontrei.
"Acreditar não é o suficiente! Você não vê isso, garota estúpida? Você pode passar a sua vida esperando e acreditando! Se um relacionamento é platônico, então vai ser sempre uma pergunta, nunca uma resposta. Você não pode viver sua vida esperando uma resposta."
Lara é uma personagem cativanete depois que você começar a acompanhar o relacionamento dela e de Sadie, mas sempre que voltavamos ao assunto Josh e o namoro dos dois, eu queria atirar o livro pela janela. A Lara era um estereótipo de mulher desequilibrada que vivia em função do relacionamento -- ela caçou tanto o Josh que o cara mudou o número do celular! E isso tudo porque ele não queria dizer para ela os motivos de ter terminado seu relacionamento.
Se um cara é babaca o suficiente para terminar com você por mensagem e nem dizer o porquê, então ele não vale a pena.
Mas então chegamos a parte do livro onde o mistério com o colar de Sadie e todo o passado dessa figura tão cheia de vida se intensifica e deixamos o Josh um pouco de lado. A Lara se mete em muita confusão para conseguir desvendar o passado de Sadie e as duas criam esse relacionamento conturbado e cheio de alfinetadas, que significa nada mais do que amor. Lá pela página 150 eu estava empolgada pelo mistério e pelas coisas absurdas em que a Sadie ia enfiar a Lara, fosse para encontrarem seu colar ou para que Lara fosse sua representante em um encontro completamente estranha com um americano que não fazia ideia de que estava saindo com um fantasma.
Quando finalmente o lance com o Josh é resolvido, só sobram coisas boas no livro. Foi divertido ver o relacionamento da Sadie e da Lara crescendo, descobrir todas as coisas maravilhosas que a Sadia havia feito em vida e, ainda, encontrar um gostinho de vingança para Lara ao fim do livro. Apesar das frustrações que a Lara me causou por causa de toda sua obsessão com Josh, eu ainda torcia para que ela conseguisse dar a Sadie o que ela sempre quis: ser famosa e reconhecida.
"Eu sou alérgica a reuniões de família. As vezes penso que seria melhor se fossemos sementes de dentes-de-leão -- sem família, sem história, só flutuando pelo mundo na nossa própria penugem."
O romance também valeu a pena, especialmente porque não foi o foco da história. Hoje eu vejo muito chicklit onde o propósito é apenas um romance entre dois personagens sem muita personalidade, mas pela segunda vez a Kinsella me surpreendeu, criando uma história envolvente e dando problemas reais para Lara, que vão muito além de encontrar o amor da sua vida no século XXI.
Ed é mais um personagem de apoio para o desenvolvimento de Lara e do seu relacionamento com a Sadie do que o foto solo de toda a história e foi gratificante ver a volorização de relacionamentos femininos. E, para mim, esse é o foco da história, o fato de Lara encontrar em Sadie uma versão ousada, que busca se divertir e correr atrás do quer -- mesmo que seja um encontro com um cara que ela encontrou do nada vasculhando prédios -- sem pedir desculpas por ser quem é ou "diminuir o volume" de si mesma só para agradar as pessoas a sua volta.
"As vezes, quando não consigo dormir, eu imagino todas as regras que eu inventaria se algum dia eu estivesse no controle do mundo."
Como a maior parte da população mundial, Lara tem esses impulsos de ajustar-se para agradar as pessoas, mesmo aquelas que ela nem conhece, e encontrar Sadie é uma forma de aprender e crescer, de descobrir que ela não precisa comprometer a pessoa que é para que as pessoas gostem dela e que, fazer as cosias do seu jeito não é utópico, mas sim o que te move para frente.
A escrita também não é nada rebuscada o que faz o texto leve e de fácil compreensão, você mergulha na história e não percebe o quanto já leu, o que é ótimo, considerando as 495 páginas que ele tem. O bom é que a diagramação da Galera Record é espaçada e torna a leitura mais agradável e menos cansativa.
Por fim, apesar de um começo difícil nas primeiras cem páginas, Menina de Vinte acabou se revelando uma história bastante gostosa e um bom entretenimento. Fechei o livro apegada as protagonistas e até senti um pouco de falta dos absurdos que a Sadie conseguia que Lara fizesse durante todos os capítulos. Para os fãs de chicklit, é um prato cheio sobre amizade, mistério, fantasmas e uma pitada de romance.